Título: Críticas pelo passado
Autor:
Fonte: O Globo, 04/06/2012, Opinião, p. 6

O amianto crisotila é utilizado por mais de 130 países como matéria-prima para uma gama variada de produtos industriais que vão desde massas de vedação, tubos, até caixas d"água e telhas. Esses países possuem normas específicas sobre a utilização do mineral. No caso do Brasil, uma lei federal está em vigor, com dispositivos bastante rigorosos de controle em todas as etapas da extração, do transporte e da comercialização. Na área da mineração, não há lei mais rigorosa quanto essa.

Além disso, por meio de um acordo, é dado aos trabalhadores poderes para suspender suas atividades a qualquer tempo, caso não sejam observadas as normas de segurança exigidas. É o mais avançado controle de produção submetido aos próprios trabalhadores de que se tem notícia na história sindical brasileira. Seria necessário um espaço bem maior para explicar tudo isso, mas, em resumo, pode-se afirmar que se tornou possível, sim, estabelecer limites seguros para o uso do amianto crisotila. As doenças que poderiam ser causadas aos trabalhadores da mina e das fábricas foram banidas.

Até mesmo os mais recalcitrantes adversários do produto, quando buscam discordar, o fazem recorrendo a um passado no qual outro tipo de amianto, o anfibólio, nocivo e também proibido no Brasil, era usado de maneira errada na construção civil. Isto aconteceu principalmente na Europa, nas décadas de 1950 a 70, quando milhares de trabalhadores foram expostos à poeira do produto. E explica por que os países daquele continente o baniram. Na verdade, é bom que se diga, não houve proibição total. Muitos países da comunidade europeia importam nosso amianto crisotila para produção de cloro-soda.

O Brasil detém a terceira maior mina do mundo, de onde se extrai, exclusivamente, o amianto crisotila, cuja história é muito diferente daquela da Europa. Antes de mais nada, devemos superar o complexo de colônia para afirmar, em alto e bom som, que nessa matéria eles têm mais a aprender conosco do que nós com eles. Pois enquanto eles usavam e exportavam para o mundo (inclusive para o Brasil) um tipo de amianto nocivo como isolante térmico de residências e prédios, sem as devidas precauções, aqui o crisotila é apenas parte de um composto à base de cimento, calcário e celulose para fabricação de telhas e caixas d"água.

Também não estamos falando de uma atividade que começou ontem, o que talvez desse aos seus críticos razões para desconfiar dos possíveis efeitos nocivos a advir. Nossa produção atravessa quase um século. Mais de 25 milhões de lares Brasil afora com cobertura de fibrocimento de amianto abrigam gerações de pais, filhos e netos. Na base Aérea de Santa Cruz, no Rio, mantém-se intacto, para quem quiser ver, o telhado do hangar que testemunhou a chegada dos primeiros dirigíveis da Companhia Luftschiffbau Zeppelin, em 1936.

Por esta razão, é imprescindível separar o joio do trigo e tratar a questão de forma racional. Fazemos, aqui, um convite a toda a sociedade para conhecer essa realidade de perto. Transparência, palavra tão em voga, é nossa mais preciosa e cara matéria-prima. A mineração e as fábricas estão de portas abertas.

MARINA JÚLIA DE AQUINO é presidente do Instituto Brasileiro do Crisotila (IBC).