Título: Descartada pela J&F, Delta vai à Justiça contra bullying empresarial
Autor: Otavio, Chico; Uribe, Gustavo
Fonte: O Globo, 05/06/2012, O País, p. 5

RIO E SÃO PAULO. A juíza Maria Isabel Paes Gonçalves, da 5 Vara Empresarial do Rio de Janeiro, vai decidir nos próximos dias se recebe a ação de recuperação judicial ajuizada ontem pela Delta Construções e outras quatro empresas do grupo. Uma decisão favorável suspenderá, por seis meses, todas as execuções judiciais contra o grupo. Em nota divulgada para explicar a iniciativa, a Delta alegou que "o envolvimento de alguns de seus executivos em supostos atos ilícitos, que estão sendo investigados judicialmente, tem levado a empresa a sofrer uma espécie de bullying empresarial".

Antes de decidir sobre pedidos de recuperação judicial, antiga concordata, os juízes geralmente ouvem o Ministério Público. Essa etapa demora pelo menos uma semana. Na nota, a Delta não revelou detalhes do pedido, mas a legislação permite que a empresa peça ao juiz a liberação de créditos retidos em instituições financeiras, dados como garantia de dívidas, e a autorização para venda de bens hipotecados.

O pedido judicial, segundo a nota da Delta, foi feito após a saída, na sexta-feira, da holding J&F, que há um mês assumira a gestão da empresa, com proposta condicionada de adquirir o controle societário e dar continuidade às suas atividades. "A situação financeira da Delta tornou-se insustentável, não restando outra alternativa senão a busca pela recuperação judicial", declarou.

A Delta informou ainda que a medida faz parte dos esforços "para garantir sucesso na execução e entrega das obras em andamento que são de interesse público e garantir a sustentabilidade da empresa em longo prazo". Alegou também que, com mais de 50 anos de existência, é responsável pelo sustento de 80 mil famílias.

Sob ameaça de ser declarada inidônea, a Delta tem tido problemas de caixa e sofrido calotes do poder público. A informação é de técnicos da J&F. No último mês, houve queda de mais de 30% no fluxo de faturamento da empresa, o que tem dificultado o pagamento a funcionários e a compra de insumos.

As prefeituras de Duque de Caxias e São Gonçalo, por exemplo, são apontadas como devedoras da empreiteira. Os assessores de imprensa dos municípios não foram encontrados para comentar a questão.

A perspectiva de prejuízo nos negócios futuros da construtora, sobretudo em virtude da perda de credibilidade, pesou na decisão da J&F de não comprar a empreiteira.

Segundo fontes da Delta, duas empresas demonstraram nos últimos dias interesse em adquirir o patrimônio físico da construtora. Ainda que atravesse uma crise econômica, um levantamento promovido pela ONG Contas Abertas mostra que a Delta tem a receber R$ 724 milhões do governo federal, montante composto por restos a pagar e valores empenhados, mas não liquidados.