Título: Brasil e Argentina voltam a negociar
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 05/06/2012, Economia, p. 25

BRASÍLIA. Argentinos e brasileiros devem rediscutir a relação, a partir hoje, em reuniões entre representantes dos dois governos em Buenos Aires. Diante de problemas cada vez maiores para fechar as contas externas, os vizinhos têm restringido as importações, sobretudo do Brasil, seu principal parceiro comercial. A ideia é colocar na ponta do lápis que medidas podem ser tomadas para destravar as exportações dos dois lados e evitar que o relacionamento entre ambos os parceiros continue arranhado. Somente em maio, as vendas brasileiras para a Argentina registraram queda de 15,9%.

A redução foi ampla e atingiu os setores de veículos automóveis e partes, pneumáticos, aparelhos transmissores e receptores, minério de ferro, autopeças, móveis, instrumentos de verificação, chassis com motor, medicamentos, óleos combustíveis e polímeros plásticos. Os calçados ainda são os mais afetados pelos obstáculos impostos pelos argentinos.

País não aceita situação que favorece China

O Brasil entende os problemas econômicos enfrentados pela Argentina, mas não se conforma com o fato de as compras da China, por exemplo, não estarem registrando quedas na mesma proporção. Enquanto as vendas brasileiras caíram 11% de janeiro a abril, as da China diminuíram apenas 3% no período. Esse é um dos argumentos que o governo brasileiro levará aos argentinos.

Dados da Associação Brasileira de Calçados (Abicalçados) indicam que 1,4 milhão de pares continuam bloqueados na fronteira argentina dependendo de licença. Deste total mais de 200 mil acabam de completar, neste mês, um ano de espera. Com isso, as exportações do setor calçadista brasileiro para a Argentina já registram queda de 55% até abril em volume e 48% em faturamento.

As arestas com a Argentina devem reduzir os ganhos dos exportadores brasileiros com o câmbio mais alto. Isso porque a alta do dólar tem mais influência sobre os produtos manufaturados - as commodities têm cotações definidas internacionalmente - e é para a Argentina que o país vende a maior quantidade destes produtos: 22%.

É com grande expectativa que empresários dos dois lados aguardam notícias destes encontros que terminam amanhã. O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, a Argentina continua sendo um mercado prioritário para o Brasil.

- Cada vez que o Brasil puder reduzir o superávit com a Argentina, dando prioridade à importação de produtos daquele país, abre caminho para as nossas exportações de manufaturados. É uma política pensando para frente - disse Castro.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no