Título: Dilma pede ação coordenada contra crise
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 05/06/2012, Economia, p. 26

BRASÍLIA, RIO, MADRI e BERLIM . A presidente Dilma Rousseff defendeu ontem, em almoço com o rei Juan Carlos I, da Espanha, uma ação coordenada de todos os atores da economia global, principalmente os europeus. Segundo ela, não dá mais para depender apenas das nações emergentes para minimizar os efeitos da crise financeira internacional:

- A retomada do crescimento em nível global não pode depender apenas de medidas adotadas pelos países emergentes. Em um momento de crise, é fundamental insistir em uma ação coordenada e solidária de todos os grandes atores da economia mundial.

Dilma disse confiar na criatividade e na força do povo espanhol para enfrentar a crise.

Bancos espanhóis precisam de 40 bi, diz Santander

Juan Carlos I, por sua vez, garantiu que a economia espanhola é capaz de superar a crise:

- Meu país tem empenho e determinação para superar a crise, bem como solidez em suas instituições e excelência no capital humano - afirmou. - A economia espanhola tem fundamentos sólidos. Nossa dívida pública é menor que a de outros países da União Europeia.

O rei afirmou ainda que a Espanha está trabalhando com os demais países da UE para fortalecer o euro, "o projeto mais ambicioso dos europeus".

Enquanto isso, o governo espanhol prossegue em sua luta para recapitalizar os bancos. Apesar de Mariano Rajoy vir rejeitando receber recursos externos, Berlim quer que a Espanha aceite dinheiro de regate. A revista alemã "Der Spiegel" afirmou que a chanceler Angela Merkel e o ministro de Finanças do país, Wolfgang Schaüble, teriam acertado uma estratégia nesse sentido na semana passada.

Schaüble se reuniu com seu colega espanhol, Luis de Guindos, no fim de semana. Em Madri, a expectativa é que Bruxelas encontre uma solução para recapitalizar os bancos. "Há gente importante que começa a ter medo, e isso é bom", disse ao jornal espanhol "El País" uma fonte do governo. "Ninguém acredita que a Europa queira se suicidar".

A Comissão Europeia, braço executivo da UE, já estuda a possibilidade de repassar recursos do fundo de resgate europeu diretamente aos bancos afetados, afirmou ontem o comissário para Assuntos Econômicos, Olli Rehn. Pelas regras atuais, os recursos têm de ir primeiro para os governos, que os repassa então aos bancos. A expectativa de uma solução para o setor bancário levou ontem a Bolsa de Madri a fechar em alta de 2,88%.

Os bancos espanhóis, inclusive os grandes, precisam elevar seu capital para fazer frente aos créditos podres em seus balanços. O presidente do Santander, Emilio Botín, afirmou ontem que a necessidade de recursos chega a 40 bilhões - mas ressaltou que seu banco não precisa de capital extra. Segundo ele, há três ou quatro instituições que precisam de ajuda pública, "uma situação excepcional".

- A Espanha tem uma situação financeira tão ou mais saudável que o resto do mundo - disse à Reuters Botín, que estava em Brasília como integrante da comitiva do rei Juan Carlos I.

No encontro, Dilma ainda voltou a defender que é possível conciliar o crescimento econômico com medidas macroeconômicas de estabilidade:

- Sempre defendemos que a saída da crise passa pelo crescimento econômico com distribuição de renda, pela criação de empregos e pelos esforços de combate a pobreza e para promover a justiça social.

A Espanha amarga a maior taxa de desemprego da UE, de 24,3%. Esperava-se que o início da temporada turística, em maio, reduzisse esse patamar, mas o número de pedidos de seguro-desemprego caiu em apenas 30.113, para 4,71 milhões. No mesmo mês de 2011, a queda fora de 79.701, segundo a Bloomberg News.

Brasil quer ampliar comércio com Espanha

A presidente lembrou que a Espanha é o segundo maior investidor no Brasil, com US$ 85,3 bilhões e um comércio bilateral de US$ 8 bilhões. Para tentar ampliar esse montante, empresários dos dois países firmaram acordo, paralelamente à reunião de Dilma e Juan Carlos I, criando o Comitê Empresarial Brasil-Espanha.

- O Brasil poderá apoiar a Espanha nos mercados asiáticos, por exemplo, e os espanhóis poderão nos ajudar na conquista do Oriente Médio - disse o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade.

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) avançou apenas 0,03% ontem, aos 53.416 pontos, com a Espanha ainda afetando o humor dos investidores. O dólar subiu 0,19%, a R$ 2,052.

- Há preocupações de que a Espanha venha a ser o próximo problema e dúvidas sobre uma eventual saída da Grécia do euro - diz Felipe Casotti, gestor de renda variável da Máxima Asset.

* Com Daniel Haidar e agências