Título: Empresário é mais um a contradizer Marconi Perillo sobre venda de casa
Autor: de Gois, Chico; de Souza, André
Fonte: O Globo, 06/06/2012, O País, p. 4

BRASÍLIA. Em depoimento que não convenceu integrantes da CPMI do caso Cachoeira, o empresário Walter Paulo Santiago, que se apresentou como administrador da Mestra Administração e Participações, complicou ainda mais a história contada pelo governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), para explicar a venda de uma casa, no ano passado, que acabou sendo o lar do contraventor Carlinhos Cachoeira. Perillo disse ter recebido três cheques pela venda do imóvel, num total de R$ 1,4 milhão, mas Walter Paulo afirmou que pagou pela casa com "pacotinhos de dinheiro".

- Não paguei com cheque. Paguei com dinheiro. Notas de 50 e de 100. Entreguei o dinheiro ao senhor Wladimir Garcez (ex-vereador) e ao senhor Fiúza (Lúcio Gouthier Fiúza, assessor de Marconi) - disse ele, acrescentando que o dinheiro foi entregue a eles na sua casa, "em pacotinhos".

- Se (Perillo) recebeu em cheque, não foi de mim - disse o empresário e professor.

Para o relator, Odair Cunha (PT-MG), o depoimento de ontem reforça a suspeita de que Perillo recebeu duas vezes pela transação do mesmo imóvel. Os cheques entregues ao governador estavam em nome da Excitant Confecções, empresa da cunhada de Carlinhos Cachoeira. Perillo disse que não sabia de quem eram. A venda foi intermediada pelo ex-vereador Wladimir Garcez, apontado como braço político do esquema de Cachoeira. À CPI, no mês passado, Garcez disse que queria comprar a casa, mas não tinha dinheiro. Por isso, pediu emprestado a Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta Centro-Oeste, e a Cachoeira. Depois, repassou o imóvel para Walter Paulo, por meio da Mestra, pelo mesmo valor da compra (R$ 1,4 milhão) e ainda recebeu R$ 100 mil de comissão.

Empresário teve cinco reuniões com Cachoeira

Ontem, Walter Paulo disse que não sabia da história dos cheques. Mais de uma vez reafirmou que pagou em dinheiro vivo, retirado ao longo de alguns meses e entregue em pacotinhos, em sua casa, ao próprio Garcez e a Lúcio Fiúza, braço-direito de Marconi. E que desde março do ano passado havia assinado uma opção de compra do imóvel.

O empresário, que apesar de ser um homem rico não possui nenhum bem em seu nome, admitiu que no ano passado se reuniu "umas cinco vezes" com Cachoeira, mas disse que, após a compra do imóvel, não o tornou a ver. Sobre o fato de a mulher de Cachoeira, Andressa Mendonça, morar na casa que ele adquirira, e sem pagar aluguel, Walter Paulo declarou que não a conhecia e nem sabia quem ocupava a casa.

- Pensei que fosse uma namoradinha do Garcez.

Apesar de se dizer administrador da Mestra, em nome da qual está a escritura do imóvel, Walter Paulo mostrou desconhecimento sobre os bancos onde a empresa tem conta ou quem é o contador. Por vezes, limitava-se a dizer que não era o dono da Mestra, em outras, dizia que ele é que havia pago pelo imóvel e que a compra se dera por sua orientação. A Mestra tem como sócio Écio Antonio Ribeiro, um engenheiro, que em 2010 declarou rendimentos de apenas R$ 17.265 no ano. Na Junta Comercial de Goiás, o nome de Walter Paulo não consta como sócio ou administrador.

Procurando demonstrar humildade e simplicidade, ele contou sua história, dizendo que era de origem humilde e já fora engraxate e vendedor de banana.

- Bens para mim são meus filhos. Sou pai de 11 filhos. Não tenho nada em meu nome - afirmou.

A instituição (Faculdade Padrão) está em nome dos filhos.

O presidente em exercício da CPI, deputado Paulo Teixeira (PT-SP) disse que as afirmações de Walter Paulo podem ajudar nos questionamentos a Perillo.

- Trouxe muitos elementos para o interrogatório do Perillo. O primeiro é o duplo pagamento. Uma parte foi em cheque, e a outra parte foi em dinheiro. Em segundo lugar, há o tema da relação dele (Perillo) com o senhor Carlos Cachoeira. Até então, o que se dizia é que o senhor Marconi Perillo tinha vendido o imóvel para o dono da maior faculdade de Goiás. O que se viu é que Carlinhos Cachoeira teve participação nesse negócio, seja pagando IPTU, seja morando na casa - disse.

Para o relator, as afirmações deixam mais dúvidas sobre a transação.

- A verdade é simples, a mentira é complicada. As declarações de Walter Paulo complicam o governador porque contradizem de maneira explícita o que diz o Perillo - afirmou Odair Cunha.

Os únicos a sair em defesa do depoente foram os deputados tucanos Carlos Sampaio e Vanderlei Macris, ambos de São Paulo.

O dono da Mestra, Écio Antonio Ribeiro, que também iria depor ontem, enviou um atestado médico à CPMI e não compareceu. Paulo Teixeira adiantou que ele vai ser chamado novamente. Já a outra ex-sócia da empresa, Sejana Martins, falou brevemente, negou que conhecesse Cachoeira, e se negou a dizer mais alguma coisa.