Título: Indústria da fortuna
Autor: Furbino, Zulmira
Fonte: Correio Braziliense, 13/09/2009, Economia, p. 22

Cidades brasileiras demonstram otimismo diante das transformações que podem vir a partir dos recursos gerados por meio da exploração de petróleo e gás. Aumento de investimentos e ampliação da oferta de empregos são as principais esperanças

Míriam Bueno investiu R$ 60 mil em um restaurante em Biquinhas (MG). A descoberta de gás trouxe nova perspectiva para a região

Cofres cheios, ampla oferta de emprego, possibilidade de ampliação dos investimentos em saúde e educação. Pode até parecer, mas não se trata de um sonho. Essa é a realidade dos quase mil municípios que abrigam atividades de exploração, produção e refino de petróleo e gás no Brasil. De janeiro a junho deste ano, Rio de Janeiro, Bahia, Alagoas, Amazonas, Amapá, Ceará, Pernambuco, Bahia, Espírito Santo, Pará, Paraíba, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Sergipe, Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais receberam, juntos, R$ 1,4 bilhão em royalties decorrentes do petróleo.

Só o Rio abocanhou R$ 1,1 bilhão ¿ 78,5%. Isso sem contar a ampliação da arrecadação de tributos como o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e Imposto Sobre Serviços (ISS), fruto da expansão econômica levada pelo indústria do petróleo. Se hoje as coisas estão nesse pé, imagine quando o pré-sal começar a produzir comercialmente, em 2015. As perspectivas de investimentos, empregos e enriquecimento são gigantescas. Somente a reserva estimada para os campos de Tupi, Yara e Guará somam de 9 bilhões a 14 bilhões de barris. Mas o volume guardado em toda a área pode superar os 60 bilhões de barris de petróleo ¿ cinco vezes maior do que a atual reserva brasileira.

Enquanto o pré-sal não vem, Mossoró, no interior do Rio Grande do Norte, comemora a consolidação de seu crescimento. ¿O petróleo mudou tudo aqui. A gente não tinha desenvolvimento nem emprego. Depois do petróleo, o comércio cresceu, chegaram indústrias em Mossoró (RN)¿, relata a auxiliar de serviços Edileuza Gomes da Silva, 40 anos. Ela trabalha para a Qualitec Engenharia de Qualidade, prestadora de serviços à Petrobras, e conta que antes dessa ocupação, vivia desempregada. ¿Agora, sou registrada, tenho direito a 13º e férias¿, afirma.

Antes e depois A cidade, de 300 mil habitantes, arrecada cerca de R$ 25 milhões ao ano com royalties e participações especiais na indústria do petróleo. Parece pouco, mas os benefícios indiretos contam mais. Nilson Brasil, secretário de Desenvolvimento Econômico, gosta de dizer que a história de Mossoró está dividida em duas fases: antes e depois do petróleo. ¿Precisamos considerar todas as empresas que estão instaladas aqui recolhendo impostos. E também a geração de empregos¿, diz.

As perspectivas de desenvolvimento trazidas pelo petróleo mexem com a cabeça dos moradores das cidades premiadas com o óleo ou com o gás antes mesmo que a produção comece para valer. É o que está acontecendo em Biquinhas, na região central de Minas Gerais, onde a descoberta de gás levou a cozinheira Míriam Conceição Bueno a investir cerca de R$ 60 mil para montar um restaurante. Até fevereiro do ano passado, ela faturava cerca de R$ 1,5 mil ao mês como dona de um bar e de uma barraca montada em festas de peão.

Com a chegada dos pesquisadores que foram para lá à procura de gás natural, passou a fornecer café da manhã, almoço e jantar para 196 pessoas diariamente. Agora, esse número caiu para 40. A empresária espera que a perfuração do primeiro poço, prevista para outubro, traga mais clientes para justificar o seu investimento.

O petróleo mudou tudo aqui. O comércio cresceu, chegaram indústrias em Mossoró (RN)¿

Edileuza Gomes da Silva, auxiliar de serviços

O número Calendário 2015 é o ano em que o pré-sal começará a ser explorado comercialmente

O número Soma R$ 1,4 bilhão é o valor que 18 estados receberam em royalties decorrentes do petróleo de janeiro a junho

O número Volume 60 bilhões de barris de petróleo é o total estimado para as reservas do pré-sal

Sinais de prosperidade Arquivo/Agência Petrobras/D.A Press - 23/7/08 Centro Móvel de Treinamento inaugurado pela Petrobras em Mossoró (RN): população comemora chances de emprego

A cidade de Paulínea, no interior de São Paulo, com 84 mil habitantes, ostenta o título de 7° maior PIB per capita do país e arrecada R$ 800 milhões ao mês. Campinas (SP), com 1,5 milhão de habitantes, recolhe R$ 10 milhões a menos. Essa disparidade entre arrecadação e população tem nome: petróleo. A Replan, uma das maiores refinarias da Petrobras, está instalada na cidade e, sozinha, responde por 65% de toda a arrecadação do município.

¿Com a Replan, a cidade atraiu distribuidoras de combustíveis e empresas como Rhodia, Kotein Nici e Braskem, da área petroquímica. Isso trouxe fornecedores para essas empresas, sem contar o incentivo a outros tipos de atividade, como comércio e serviços¿, enumera Wilson Machado, presidente da Associação Comercial e Industrial de Paulínea. De acordo com ele, a demanda por imóveis cresceu mais de 60% nos últimos quatro anos. O furor desenvolvimentista sobrou para a vizinha Cosmópolis (SP), onde a procura saltou 70%.

Renda Wilson Machado afirma que a prefeitura de Paulínea tem 5 mil funcionários e que o salário mais baixo é o de uma faxineira: R$ 2.700. ¿A folha do município chega a R$ 35 milhões por mês.¿ Isso sem contar o 14º salário, garantido para os funcionários públicos.

¿Aqui, houve distribuição de renda de fato. O salário mínimo equivale a R$ 1 mil. Os ganhos são em forma de abono¿, explica. Só há um motivo de briga em Paulínea: o valor do pedágio. São R$ 7,20 no retorno da cidade, bem perto da Replan. ¿Os trabalhadores (todos juntos) da refinaria gastam R$ 15 milhões ao ano com o pedágio. A pista recebe 39 mil veículos ao dia¿, diz Machado. (ZF)

Seminário em Brasília

A exploração do pré-sal será debatida em seminário promovido pelo Estado de Minas e pelo Correio Braziliense nos próximos dias 22 e 23, em Brasília. O evento contará com a presença de ministros, governadores, senadores, deputados e especialistas. Sob o tema Pré-sal e o futuro do Brasil, eles vão discutir, por exemplo, o novo marco regulatório no setor de petróleo e gás, os desafios na distribuição da riqueza e os efeitos da atividade sobre o desenvolvimento econômico e social do país.