Título: Especialistas reduzem projeções de expansão no ano, para até 1,5%
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 02/06/2012, O País, p. 26

SÃO PAULO e RIO . O fraco resultado do PIB entre janeiro e março, abaixo da maioria das estimativas do mercado, já está levando analistas e consultorias a reverem suas projeções para o crescimento da economia brasileira este ano. De 3%, as projeções passaram a 2% e até a 1,5%. Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco WestLB, rebaixou a previsão para o PIB este ano de 3% para 2,5%, depois que o resultado do primeiro trimestre veio abaixo do que projetara, alta de 0,4%:

- O resultado decepcionou, e a dinâmica dos números veio bem fora do que esperávamos.

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, manteve a projeção de 2,5% de alta para o PIB de 2012, mas considera provável ter de rebaixar essa meta.

- Os 2,5% estão virando absolutamente um teto para a economia este ano, que vai ser difícil de ser alcançado - diz.

CNC vê estagnação no consumo das famílias

Vale observa que os dados preliminares do segundo trimestre, como a produção industrial, "são muito fracos" e a crise na Europa pode piorar ainda mais. Além disso, explica, os recursos de que o governo dispõe hoje para estimular a economia são bem mais limitados que em 2008, após a quebra do banco Lehman Brothers. Vale admite que as recentes medidas de estímulo podem até surtir algum efeito no segundo semestre, mas seu impacto será bastante restrito:

- A crise europeia está longe do fim, e isso traz a perspectiva de a economia continuar fraca nos próximos trimestres. Com as famílias endividadas e a inadimplência em alta, o governo não tem mais a margem de manobra de antes.

A Rosenberg Associados, que esperava alta de 0,6% no primeiro trimestre, reviu sua meta para o ano de 2,7% para 2,3%.

- Os dados sobre investimento foram muito decepcionantes e, como a indústria opera com capacidade ociosa, alta não vemos grandes perspectivas de crescimento - explica Rafael Bistafa, economista da Rosenberg Associados.

Rafael Baccioti, analista da Tendências, ressalta que a indústria vem perdendo competitividade e sofrendo com o quadro internacional.

- Com o quadro de incerteza, há uma postura mais cautelosa das empresas em investir, postergando o aumento da produção. Com isso, a economia deve crescer entre 1,5% e 2% este ano - explica Bassioti, cuja projeção anterior era de 2,5%.

Para Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o aumento de 1% do consumo das famílias em relação a 2011 mostra estagnação. Segundo ele, o PIB já vem se arrastando desde o fim do ano passado, e o segundo trimestre também deve ter expansão de 0,2%. Thadeu de Freitas diz que sua projeção para o ano vai passar de 2,5% a 2% e ressalta que o Brasil vai crescer menos que os outros emergentes.

- O consumo das famílias é o que vem sustentando o crescimento da economia. Mas está estagnado, e vimos isso no desempenho das vendas do Natal. Por isso, todas as ações do governo só vão ter um reflexo no segundo semestre deste ano.

Rogério Sobreira, professor de economia e finanças da Ebape, da Fundação Getulio Vargas (FGV), reduziu sua projeção para 2012 de 3,2% para 2,5%. Já Gilberto Braga, professor de Finanças do Ibmec-RJ, mudou suas estimativas de 2,6% para "algo em torno de 2,2% e 2,4%".