Título: Estatais ajudarão a turbinar economia
Autor: Carneiro, Lucianne
Fonte: O Globo, 02/06/2012, Economia, p. 27

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Os números do primeiro trimestre mostraram para o Executivo que é preciso acelerar os investimentos públicos. Como há pouca margem de manobra para ampliá-los pelo Orçamento Geral da União (OGU), a ideia é recorrer às estatais e pressioná-las a agilizar seus planos de investimento. Esta seria a saída para aumentar a injeção de recursos na economia, sem pressionar o resultado primário. A meta para 2012 é economizar R$ 139,8 bilhões, equivalente a 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país). Desde 2010, Petrobras e Eletrobras não são contabilizadas no superávit primário do país. Assim, podem investir à vontade sem comprometer a meta.

Mas o governo não sabe se conseguirá acelerar esses investimentos no ritmo necessário para garantir um crescimento mais expressivo este ano. Por isso, não descarta a redução da meta, embora esta não seja a saída que mais agrade à presidente Dilma Rousseff. Como antecipou O GLOBO em abril, parte da equipe econômica tenta convencer a presidente de que é preciso reduzir o superávit primário este ano para turbinar o crescimento. O argumento ganhou força depois de o PIB do primeiro trimestre ter surpreendido negativamente a equipe de Guido Mantega, ficando abaixo das últimas previsões, já bastante pessimistas - entre 0,3% e 0,5% - feitas pelo ministro.

Mantega, porém, minimizou o resultado do PIB no primeiro trimestre. O ministro voltou a dizer que a economia deve reagir nos próximos meses e que a taxa anualizada de crescimento na segunda metade de 2012 ficará entre 4% e 4,5%. O governo continua apostando no sucesso das medidas de estímulo ao consumo anunciadas nos últimos dias.

- Vamos chegar ao segundo semestre com essas medidas fazendo mais efeito e com o crédito mais abundante às empresas e ao consumo. Muitas medidas foram tomadas e nem todas surtiram efeito. Em maio, junho e julho teremos aumento do crédito e taxas menores. No segundo semestre, devemos atingir o crescimento que queremos de 4% a 4,5% - disse ele.

Para analistas, centralização de Dilma atrasa iniciativas

Perguntado sobre se o governo vai afrouxar a meta de superávit primário de 3,1% até o fim do ano, Mantega disse que "não vê necessidade". Ele considerou ainda "muito bom" o resultado do primeiro quadrimestre.

- Temos munição, não quer dizer que vamos usá-las.

Segundo especialistas, além da política fiscal restritiva, a presidente tem uma postura muito centralizadora, o que acaba dificultando a execução dos investimentos. Os projetos acabam por não sair com a rapidez esperada e necessária para a realização dessas despesas. Há duas semanas, o Conselho Monetário Nacional (CMN) autorizou o BNDES a aumentar as operações com a Vale acima do limite permitido para o resto das empresas no mercado. Petrobras e Eletrobras já contavam com o benefício. É uma forma de turbinar os investimentos privados.