Título: Brasil tem o pior desempenho entre o Brics
Autor: Carneiro, Lucianne
Fonte: O Globo, 02/06/2012, Economia, p. 27

Destaques do cenário mundial nos últimos anos, as economias do Brics (grupo de países formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) vivem uma fase de menor brilho. Os impactos da crise da zona do euro e da recuperação fraca dos Estados Unidos se fazem sentir também nos países emergentes, que crescem num ritmo mais lento. A desaceleração do crescimento da economia brasileira - 0,2% no primeiro trimestre frente ao quarto trimestre, como foi divulgado ontem pelo IBGE - acompanha a dos outros parceiros, ainda que em maior intensidade.O Brasil tem o pior desempenho entre os países.

- A crise se manifesta de maneiras diferentes nas várias regiões. A desaceleração das economias do Brics reforça a ideia de que este é um fenômeno global e de que estamos no meio da crise - afirma o professor do Instituto de Economia da UFRJ Luis Carlos Prado.

Na avaliação de Marcos Troyjo, professor da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, há dois elementos comuns na desaceleração das economias do Brics: a situação da zona do euro e o "moroso passo de recuperação dos Estados Unidos". Mas também há aspectos particulares de cada um dos países, como a mudança no padrão da economia chinesa, com mais investimento em pesquisa e desenvolvimento, por exemplo.

- A União Europeia é o principal destino das exportações de China e Rússia, então são os países que têm mais impacto nesse sentido. Mas os países europeus também são importantes irradiadores de investimentos diretos, o que afeta todos do Brics - diz Troyjo, que dirige o BRICLab.

A própria desaceleração da China traz impacto para o Brics, lembra o analista sênior de economia internacional da consultoria Oxford Analytica Eduardo Plastino.

- Os países do Brics são afetados de formas diferentes pelo contexto externo porque têm economias muito diferentes. Além disso, a China especialmente também é um fator fundamental para a economia mundial hoje, inclusive para os outros Brics - diz Plastino.

Para se ter uma ideia, mais de 40% das exportações russas são voltadas para a União Europeia. Ainda assim, a Rússia foi a única entre os cinco Brics a acelerar a expansão no primeiro trimestre, embalada pelo petróleo. A economia russa cresceu 4,9% frente ao primeiro trimestre de 2011, após uma alta de 4,8% no trimestre anterior. Na China, o crescimento recuou de 8,9% no quarto trimestre para 8,1% no primeiro trimestre (na comparação com igual trimestre do ano anterior) - a menor expansão em 11 trimestres. No caso indiano, o crescimento desacelerou de 9,2% para 5,3%. Já na África do Sul, a queda foi de 2,9% para 2,1%. No Brasil, o ritmo despencou de 2,7% para 0,8%. Aliás, a economia brasileira cresceu menos não apenas entre os países do Brics, mas também entre vizinhos seus, como Argentina (4,8%), Chile (5,6%), México (4,6%), Peru (6%) e Venezuela (5,6%).

- Havia uma expectativa sobre os Brics (de forte crescimento), mas não são economias isoladas, há um impacto da crise, em maior ou menor grau - explica Leane Naidin, coordenadora do núcleo Desenvolvimento, Comércio, Finanças e Investimentos do Centro de Estudos e Pesquisas BRICS.

Algumas das análises mais pessimistas se voltam para o Brasil - por conta da desaceleração mais intensa. Mas há quem veja certo exagero do mercado, como Jim O"Neill, economista do Goldman Sachs que criou o termo Bric.

"Os mercados financeiros costumam ir de um extremo a outro quando suas expectativas sobre um país não são confirmadas. As previsões para o crescimento brasileiro eram muito elevadas, principalmente depois da alta de 7,5% do PIB em 2010, e ajustes eram necessários. Mas agora há análises que estão exagerando problemas e riscos para o Brasil", disse O"Neill à BBC Brasil.

Expansão ainda é superior à dos países desenvolvidos

Também o Brazil Confidential, serviço de análises sobre o Brasil do jornal "Financial Times", Richard Lapper, comentou o exagero. Segundo a BBC Brasil, ele ressaltou que o clima é de que a festa brasileira acabou: "É como se de repente alguns analistas tivessem descoberto que o Brasil tem problemas".

Para uma expansão maior, no entanto, o Brasil terá de enfrentar alguns de seus gargalos. Luis Carlos Prado destaca que, isoladamente, a expansão do consumo não será suficiente para manter o crescimento da economia.

- Ou se aprofundam as estratégias, com melhora substancial de educação e infraestrutura e uma mudança do patamar da economia, ou o crescimento será medíocre - diz o professor da UFRJ.

Apesar da desaceleração, a expectativa é que os países do Brics mantenham um crescimento mais expressivo que o de países desenvolvidos. Pelas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), a expansão do PIB em 2012 deve ser de 3% no Brasil; 8,2% na China; 6,9% na Índia; 4% na Rússia; e 2,7% na África do Sul. Para a economia mundial, a projeção é de alta de 3,5%, com crescimento de 2,1% nos Estados Unidos e recuo de 0,3% na zona do euro.

A expectativa para 2013, por sua vez, é de avanço de 4,1% do PIB mundial, acompanhado por expansão de 4,1% da economia brasileira, 8,8% da China, 7,3% da Índia e 3,9% da Rússia. No ano que vem, EUA devem crescer 2,4% e a zona do euro, 0,9%, segundo projeção do FMI.

Relatório da PriceWaterhouseCoopers ressaltou que as economias do Brics vão continuar a puxar o crescimento da economia mundial este ano, mesmo com a crise.

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