Título: Desemprego de EUA e Europa derruba bolsas
Autor: Villas Bôas, Bruno
Fonte: O Globo, 02/06/2012, Economia, p. 29

RIO, BRUXELAS, WASHINGTON e NOVA YORK. O aumento do desemprego na Europa e nos Estados Unidos derrubou os mercados ontem, devido à preocupação com a economia global. A agência estatística da União Europeia (UE), a Eurostat, informou que o desemprego na zona do euro atingiu o patamar recorde de 11% em abril, enquanto nos EUA o índice avançou para 8,2%, com abertura de vagas muito abaixo do esperado. Para analistas, isso mostra que a crise da dívida europeia já está afetando a incipiente recuperação da economia americana.

As empresas americanas criaram 69 mil vagas em abril. Esse número ficou muito abaixo das projeções de analistas ouvidos pela agência Bloomberg News, que variavam de 75 mil a 195 mil. Esperava-se que a taxa ficasse inalterada em 8,1%.

Ellen Zentner, economista sênior do banco Nomura nos EUA, disse ao jornal americano "The New York Times" que a indústria não está contratando porque está preocupada com a situação na Europa.

A oposição aproveitou os dados de emprego para criticar a política econômica do governo. "O povo americano não precisa aceitar o novo padrão do presidente Obama, de menos empregos e preços maiores", afirmou em nota o presidente da Câmara, o republicano John Boehner.

Barack Obama, por sua vez, atribuiu a alta do desemprego à crise europeia:

- Há uma crise na Europa, que tem impacto em todo o mundo e começa a ensombrecer nossa economia também.

Analistas preveem mais desemprego na Europa

Já o desemprego europeu foi puxado, principalmente, pelos países que estão no centro da crise, como Espanha e Grécia. O índice espanhol ficou em 24,3%, e o grego, em 21,7%. Nos 27 países da UE, o desemprego passou de 10,2% a 10,3%. E as perspectivas não são boas.

- Esse nível de 11% continuará subindo nos próximos meses, provavelmente até o fim do ano - disse à agência Reuters François Cabau, economista do Barclays Capital.

Em Nova York, o índice Dow Jones recuou 2,22%, a maior queda desde novembro do ano passado, e os ganhos de 2012 foram apagados. Agora, o principal índice americano acumula uma perda de 0,81%. Nasdaq e S&P fecharam em queda de 2,82% e 2,46%, respectivamente.

No mercado brasileiro, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) recuou 2%, aos 53.402 pontos pelo Ibovespa, seu principal índice. Na semana, acumula queda de 1,95%, a sexta consecutiva. É a maior sequência de baixas da Bolsa desde maio de 2004.

Segundo Fausto Gouveia, economista-chefe da Legan Asset Management, o fraco resultado do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos) brasileiro pouco acrescentou à queda do mercado. Também pesou a desaceleração da indústria chinesa.

- O resultado do PIB foi uma notícia negativa, mas a origem do problema está no exterior. O Dow Jones testou patamares importantes de perdas - explicou Gouveia.

Dólar comercial sobe

1,48% e vai a R$ 2,048

O dólar comercial fechou em alta de 1,48%, cotado a R$ 2,048. Na semana, a moeda ganhou 2,5% frente ao real. Mais uma vez, o Banco Central (BC) não entrou no mercado, apesar de a moeda registrar sua terceira alta consecutiva.

Entre as ações que mais contribuíram para a perda da Bolsa, os destaques foram as ações ordinárias (ON, com direito a voto) da OGX Petróleo, que recuaram 5,92%, a R$ 9,69. Os papéis preferenciais (PN, sem voto) da Petrobras tiveram queda de 1,73%, a R$ 18,80, e os da Vale caíram 1,63%, para R$ 36,12.

Na Europa, Londres fechou em queda de 1,14%. Frankfurt caiu 3,42%, enquanto Paris e Madri recuaram 2,21% e 0,41%, respectivamente. Os rendimentos de títulos de países considerados seguros, como EUA e Alemanha, registraram novas mínimas recordes. O retorno do Treasury americano de dez anos ficou em 1,47%, e o do Bund alemão, em 1,12%. O retorno é inversamente proporcional à demanda.

Os preços do petróleo também foram afetados. O barril do tipo Brent, negociado em Londres, teve queda de 3,4%, a US$ 98,43, segundo a Bloomberg. Já o tipo leve americano recuou 3,8% em Nova York, a US$ 83,23.

* Com agências internacionais