Título: Fundos de pensão têm R$ 1,5 bi investido no Banco Cruzeiro do Sul
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 09/06/2012, Economia, p. 22

ESCRITÓRIO DO banco no Rio: "Eventuais prejuízos dependem da conclusão dos trabalhos do BC", diz secretário

Ricardo Moraes/Reuters/4-6-2012

BRASÍLIA e RIO. Fundos de pensão de estatais, de estados e de municípios investiram R$ 1,523 bilhão no Banco Cruzeiro do Sul, que está sob intervenção do Banco Central (BC), por suspeita de fraudes e irregularidades. Do total, R$ 1,097 bilhão são recursos das entidades de previdência dos funcionários de estatais e R$ 426 milhões vieram de institutos de servidores estaduais e municipais, de acordo com levantamento do governo. Esses recursos, segundo o secretário de Previdência Social, Leonardo Rolim, estão ameaçados.

A garantia desses investimentos depende do futuro do banco (venda, depois de saneado, ou liquidação) e da varredura que está sendo feita na instituição sobre a qualidade dos ativos. Ou seja, se o crédito estiver lastreado em empréstimos verdadeiros (consignados, principalmente, atuação forte do banco), as entidades vão reaver o dinheiro. Se foram lançamentos fictícios, terão prejuízo.

- A situação ainda não está clara e eventuais prejuízos dependem da conclusão dos trabalhos do BC - disse o secretário.

No caso dos fundos de pensão das estatais, segundo informou a Superintendência de Previdência Complementar (Previc), as aplicações são vinculadas a papéis emitidos pelo Cruzeiro do Sul ou cotas de Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (Fidcs). Do valor total, 52,94% estão investidos em depósitos a prazo, com garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) no limite de R$ 20 milhões por CNPJ e 33,96%, em cotas de Fidcs.

Segundo levantamento da Previdência, responsável pela fiscalização dos regimes de aposentadoria de servidores estaduais e municipais, 41 fundos têm dinheiro aplicado no Cruzeiro do Sul, sendo 36 municipais, entre eles o Previcampos (RJ), e cinco institutos estaduais (Pernambuco, Rondônia, Amapá, Amazonas e Pará). Praticamente todos os investimentos estão concentrados em Fidcs, onde o BC também detectou problemas - lançamentos de créditos fictícios.

CVM e Susep vão repassar dados do banco à polícia

Segundo Rolim, o montante aplicado por essas entidades não é preocupante em relação ao patrimônio do conjunto dos fundos de pensão estaduais e municipais, que é de aproximadamente R$ 60 bilhões. Ele lembrou que na quebra do banco Santos os fundos de pensão perderam R$ 600 milhões e que, embora a situação do Cruzeiro do Sul seja diferente, tem que servir de aprendizado para reforçar o rigor dos fundos na hora de escolher onde aplicar seus recursos.

- Apesar do potencial de ganhos maiores, aplicar em bancos de menor porte é mais arriscado porque os ativos dessas instituições podem ser mais frágeis - disse.

Ele destacou, no entanto, que os fundos dos servidores estaduais e municipais têm dado preferência às instituições de maior porte. O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, por exemplo, concentram cerca de 80% dos investimentos dessas entidades. Em seguida, aparecem Bradesco, Itaú, Banrisul, Santander, HSBC, BNY Mellon (com sede em Nova York) e o Cruzeiro do Sul.

A Previc informou em nota que está acompanhando a situação do Cruzeiro do Sul. Afirmou ainda que as entidades, além dos cuidados prudenciais exigidos pela legislação, estão sendo monitoradas sobre controles de riscos e procedimentos adotados pelas empresas para a garantia e custódia dos ativos alocados em Fidcs.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a Superintendência de Seguros Privados (Susep) foram acionadas ontem pela Polícia Federal (PF) para darem informações sobre o Cruzeiro do Sul. A ideia é traçar o perfil das atividades financeiras desenvolvidas pelo banco na Bolsa de Valores e no mercado de seguros consignados. No início da semana a PF no Rio instaurou inquérito para investigar se ocorreu crime contra o sistema financeiro nacional depois da descoberta de um rombo de R$ 1,3 bilhão na contabilidade do banco, levando o Banco Central a decretar Regime de Administração Especial Temporária (Raet). A PF também pediu informação ao BC.

A PF informou que o inquérito ainda está no início, na fase de coletas de informações. A investigação é de policiais federais da Delegacia de Combate ao Crimes Financeiros (Delefin). O chefe da investigações é o delegado federal Victor Poubel, mas nos próximos dias um novo delegado deve ser designado para assumir o caso.