Título: Bancos, a palavra chave da crise
Autor: Schreiber, Markus
Fonte: O Globo, 09/06/2012, Economia, p. 23

GENEBRA. A palavra que resume a crise na Europa hoje não é mais dívida, e sim bancos. Segundo analistas, se os bancos espanhóis afundarem, o problema da dívida europeia pode evoluir para uma crise aberta do sistema financeiro do continente. Ou seja, a Europa viveria seu "momento Lehman", em referência à quebra do Lehman Brothers, em 2008, que arrastou os Estados Unidos e o mundo para uma crise financeira.

Segundo Juan Ignacio Sanz, economista da Escade Business School, em Barcelona, há hoje na Espanha cinco bancos sob risco de falência: Bankia (o quarto maior), Banco de Valencia, Banco Mare Nostrum e as instituições regionais de poupança Novacaixagalicia (NCG) e Catalunya Caixa. Foram todos demasiadamente generosos nos empréstimos imobiliários, raiz da crise espanhola. Para Sanz, a Espanha precisa de ajuda para além dos bancos, mas não quer admitir. Ele acha que o pedido não acontecerá hoje, mas daqui a dez ou 12 dias.

- Eles (o governo espanhol) precisam de ajuda. Mas não querem ser como Portugal ou Irlanda. Não querem ser considerados um governo pedindo ajuda a Bruxelas. E buscam ajuda só para os bancos para não se subordinarem às condições de Bruxelas - disse Sanz ao GLOBO.

Para Shahin Vallée, economista do instituto Bruegel, em Bruxelas, ficou evidente que os bancos espanhóis "não podem continuar sem assistência pública e, sem dúvida, ajuda europeia". Uma humilhação para a quarta maior economia da Europa?

- Não se deve ver isso como uma humilhação. A Espanha é vítima da relativa falta de acabamento da união monetária. Seria ingênuo imaginar que os espanhóis poderiam sair desta situação sozinhos - disse Vallée.

E se o contágio dos bancos, que na Europa estão interligados, se alastrar? Sanz não acredita que a crise atingirá os grandes, como Santander ou BBVA, já que a maior parte da receita destes (80% e 70%, respectivamente) vem de fora da Espanha. Ele também não acredita que a unidade brasileira do Santander será afetada:

- Neste momento, o sistema financeiro espanhol está sob controle. Não sei o que pode acontecer em alguns dias.

As estimativas de analistas sobre o montante necessário para resgatar os bancos do país vão de 40 bilhões a 100 bilhões, e o fundo criado pelo governo espanhol para esse fim só dispõe de 5,3 bilhões.

Esta semana, até seis bancos da Alemanha, a maior economia da Europa, foram rebaixados pela agência de classificação de risco Moody's, devido a sua exposição nos países em crise. Vallée ressalta por isso que todos têm interesse em salvar os bancos espanhóis:

- Se um pedaço da rede bancária europeia explode, todo o resto vai pagar.

No fim deste mês, os líderes europeus se reúnem em Bruxelas para decidir sobre o que muitos analistas consideram essencial para salvar a zona do euro: uma união fiscal e bancária.

- Finalmente, Bruxelas acordou para a situação de dificuldade dos bancos europeus - disse Sanz.

Para Vallée, a UE precisa, em primeiro lugar, criar um sistema supranacional de garantia dos depósitos bancários. Depois, estabelecer uma autoridade responsável pela recapitalização e reestruturação dos bancos. Por fim, criar uma autoridade de supervisão bancária supranacional, para evitar que os interesses dos Estados se sobreponham aos do bloco.