Título: Espanha deve pedir hoje ajuda financeira à UE
Autor: Schreiber, Markus
Fonte: O Globo, 09/06/2012, Economia, p. 23

Fontes dizem que proposta, ainda sem valor, seria fechada em reunião dos ministros de Finanças da zona do euro

ANGELA MERKEL prometeu que não vai pressionar a Espanha para que esta peça resgate financeiro: "Cabe aos países se voltarem para nós"

Markus Schreiber/AP

MADRI e BERLIM. A Espanha deve pedir hoje ajuda à União Europeia (UE) para recapitalizar os bancos do país. O pedido deve ser formalizado na teleconferência dos ministros de Finanças da zona do euro, afirmaram fontes da UE e da Alemanha. O valor dessa ajuda, no entanto, ainda não foi determinado.

- O anúncio é esperado para o sábado à tarde - disse uma das autoridades da UE.

Se o pedido for confirmado, a Espanha será o quarto país a buscar assistência desde o início da crise da dívida da zona do euro. Já receberam ajuda Portugal, Irlanda e Grécia.

Na quinta-feira, a Espanha viu sua nota de crédito soberano ser reduzida em três níveis, de "A" para "BBB", pela agência de classificação de risco Fitch. Ontem, a Moody"s alertou que os eventos na Espanha e na Grécia podem acarretar mais rebaixamentos na zona do euro.

- O governo da Espanha percebeu a seriedade de seu problema - disse à agência Reuters uma autoridade alemã, acrescentando que um acordo precisa ser fechado antes das eleições na Grécia, no próximo dia 17, cujo resultado pode afetar seriamente os mercados.

Em Berlim, a chanceler alemã Angela Merkel afirmou que não está pressionando nenhum país a pedir ajuda e ressaltou que cabe à Espanha tomar uma decisão:

- Cabe aos países individualmente pedir o apoio. Isso não aconteceu até agora, e, portanto, não vamos exercer qualquer pressão.

Merkel ressaltou que a UE tem uma série de instrumentos a serem usados se a Espanha precisar.

Madri quer evitar supervisão do FMI

Em Madri, onde o gabinete espanhol realizava sua reunião semanal, uma porta-voz do governo disse que não estava ciente de nenhum anúncio sobre um resgate bancário. O presidente Mariano Rajoy havia afirmado na quinta-feira que iria aguardar o resultado de duas auditorias nos bancos espanhóis, previsto para o dia 21, antes de recorrer à UE. Esse discurso foi repetido ontem pela vice-presidente, Soraya Saenz de Santamaria.

O vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Vitor Constancio, no entanto, disse à Bloomberg News que o pedido de ajuda espanhol é esperado para hoje e que este será "destinado exclusivamente à recapitalização dos bancos".

A expectativa é que a Espanha peça ajuda do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (Feef), de 440 bilhões. O volume vai depender nos resultados das auditorias externas e da avaliação do Fundo Monetário Internacional (FMI). O FMI antecipou de segunda-feira para hoje a divulgação de seu relatório estimando que serão necessários 40 bilhões. Já a Fitch calculou o montante entre 60 bilhões e 100 bilhões.

Até agora, a Espanha hesitou em pedir um resgate financeiro para não ter de se submeter às duras condições e supervisão de FMI e UE, como sofreram Portugal, Grécia, e Irlanda. Por isso o governo espanhol vem tentando obter recursos exclusivamente para seu Fundo de Reestruturação Ordenada dos Bancos (Frob), que os repassaria às instituições financeiras em dificuldade. Isso, no entanto, não está previsto nas regras atuais do Feef, e a Alemanha tem mostrado reticência em alterar essas normas.

Rajoy vem tentando vencer essa resistência alemã, a fim de conseguir recursos diretamente para os bancos. O Tesouro espanhol está tendo dificuldade em se financiar nos mercados. Ontem o retorno sobre os títulos de dez anos da Espanha subiu de 6,09% para 6,24%. Quanto maior a taxa, menor a demanda. Em 2005, o papel registrou a mínima de 3%.

A perspectiva de um socorro à Espanha fez com que o euro recuasse 0,4% ontem frente ao dólar, para US$ 1,2517.