Título: Bashar al-Assad de Damasco no Tribunal de Haia
Autor:
Fonte: O Globo, 09/06/2012, O Mundo, p. 29

A História da Síria é, agora, tanto uma tragédia como um escândalo. Dia após dia, sua polícia e seu Exército humilham, aterrorizam e matam hordas de cidadãos. Velhos e jovens, instruídos e ignorantes, ricos e pobres: todos viraram alvos. Em apenas um dia, duas semanas atrás, jovens foram chacinados um a um - com tiros na cabeça.

E o chamado mundo civilizado não está sequer tentando impedir o massacre. Seus líderes emitem comunicados, mas o banho de sangue continua. Uma situação que se arrasta por 13 estranhos meses e que não está perto do fim.

Quando questionados, nossos líderes simplesmente dão de ombros: "O que neste mundo pode ser vislumbrado quando um líder pseudodemocraticamente eleito prende, atormenta, tortura, desfigura e mata sem parar, em larga escala, centenas de seus cidadãos? O que poderia detê-lo?"

Intervenção militar? Não. Por que não? Porque os americanos estão cansados de bancar guerras distantes. Porque as famílias americanas perderam muitos filhos e filhas em conflitos longínquos. As famílias sírias devem sofrer por conta da ajuda que demos a outros? Pelos sacrifícios que já fizemos?

Resoluções da ONU? Rússia e China vergonhosamente transformam-nas em inúteis.

Sanções econômicas? De alguma maneira, o presidente Bashar al-Assad não tem medo delas. Expulsões diplomáticas? Produzem manchetes nos jornais, nada mais.

Que manobra estratégica, então, é operacionalmente recomendada, capaz de trazer possíveis resultados políticos?

Não estou seguro de que a assistência armada seja a única solução. Sanções econômicas se provaram relativamente fúteis em outros locais. Mas por que não imaginar uma outra opção, capaz de produzir um efeito dramático?

Por que não advertir Assad de que, se não interromper a política assassina na qual está engajado, será preso e levado ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, e indiciado por crimes contra a Humanidade?

Tal acusação teria aspectos de desencorajamento. Ele perderia qualquer apoio, qualquer simpatia no mundo em geral. Nenhuma pessoa honrada sairia em sua defesa. Nenhuma nação lhe ofereceria abrigo. Nenhum documento com limitações se aplicaria a seu caso.

Se e quando perceber que, como o ditador egípcio Hosni Mubarak, vai terminar em desgraça, trancado numa cela de cadeia, ele poderia pôr fim à luta criminosa e sem sentido pela sua sobrevivência.

Por que não tentar?