Título: Espanha sofre novo baque
Autor:
Fonte: O Globo, 08/06/2012, Economia, p. 23

O MINISTRO da Economia espanhol, Luis de Guindos, anuncia o novo presidente do BC em meio à crise do setor financeiro

ANGELA E Cameron: Alemanha usará todos os instrumentos contra a crise, diz chanceler

Andrea Comas/Reuters

Carsten Koall/AFP

TURBULÊNCIA GLOBAL

A agência de classificação de risco Fitch rebaixou a nota da dívida da Espanha em três níveis, de "A" para "BBB" - o mesmo rating do Brasil. O patamar ainda é de grau de investimento, mas pode não durar, já que a perspectiva da dívida espanhola é negativa, ou seja, pode haver novos rebaixamentos. A nota "BBB" está a dois níveis do grau especulativo, que começa em "BB+". O anúncio foi feito após o fechamento dos mercados europeus. Um pouco antes, a chanceler alemã, Angela Merkel, havia afirmado que seu país está pronto para usar todos os instrumentos de que a zona do euro dispõe para combater a crise da dívida na zona do euro.

- É importante destacar, mais uma vez, que criamos instrumentos de apoio na zona do euro e que a Alemanha está pronta para usar esses instrumentos quando for necessário - disse Merkel, referindo-se ao fundo europeu de resgate, durante uma entrevista coletiva com o premier britânico, David Cameron. - Isso é uma expressão clara da nossa vontade política de manter a zona do euro estável.

Ajuda a bancos chegaria a 100 bi

Merkel aproveitou a ocasião para alfinetar Cameron por não ter aderido ao acordo de estabilização fiscal da União Europeia (UE). Em entrevista à televisão alemã, antes do encontro, ela disse que está se formando uma "Europa de duas velocidades":

- Quem está em uma união monetária tem de unir mais. Não podemos ficar parados porque alguns não querem nos acompanhar.

Em seu comunicado, a Fitch afirmou que a decisão reflete o pesado endividamento, a recessão e o custo da recapitalização dos bancos espanhóis. A Espanha tinha a nota máxima, "AAA", até maio de 2010, quando recuou a "AA+". Desde então, sofreu outros três cortes, sendo o último em janeiro, para "A".

A Fitch elevou sua estimativa para o endividamento do governo espanhol de 82% para 95% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos em um país) em 2013. A agência afirmou ainda que a Espanha continuará em recessão no ano que vem - antes, previa uma leve recuperação.

Sobre a recapitalização dos bancos, a Fitch elevou suas projeções de 30 bilhões para 60 bilhões. E alertou que, no pior cenário, esse montante chegaria a 100 bilhões. Já o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta as necessidades dos bancos espanhóis em dificuldades em 40 bilhões, disseram ontem à agência de notícias Reuters fontes do setor financeiro.

O dado consta de um relatório que deve ser publicado na próxima segunda-feira. Este também estima que, para sanear todo o sistema bancário espanhol - incluindo as instituições saudáveis - são necessários 90 bilhões. Os bancos saudáveis cobririam uma boa parte desse montante, disse uma das fontes.

O presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, afirmou ontem que só decidirá o volume da injeção de capital nos bancos após o término da auditoria contratada para avaliar a situação das instituições em dificuldade. E desautorizou qualquer pessoa do governo a falar no assunto:

- Perguntem a mim - afirmou.

No meio da crise no setor bancário, o ministro da Economia, Luis de Guindos, anunciou no Congresso o nome do novo presidente do Banco da Espanha: Luis Maria Linde.

- Linde é um especialista em mercados e sistemas bancários e não tem vinculação política, o que é crucial para manter a autonomia da instituição - afirmou De Guindos.

Fitch alerta sobre zona do euro e EUA

Já o vice-presidente do BC espanhol, Javier Ariztegui, informou que será preciso injetar 9 bilhões nas instituições financeiras Novagalicia e Catalunya Caixa.

A Fitch também avisou que se a Grécia deixar a zona do euro vários países do bloco serão afetados. Em conferência em Nova York, o analista de ratings da Fitch Ed Parker disse que, de imediato, seriam rebaixados Chipre, Irlanda, Itália, Espanha e Portugal. Os demais países da zona do euro ficariam em observação negativa.

Parker disse ainda que a Fitch pode reduzir sua nota para os Estados Unidos em 2013 se Washington não apresentar um plano crível para diminuir seu déficit. Na Fitch os EUA ainda são "AAA". O país foi rebaixado pela Standard & Poor"s, a "AA+", em agosto de 2011.