Título: Viúva confessou morte de executivo, diz polícia
Autor: Guandeline, Leonardo
Fonte: O Globo, 07/06/2012, O País, p. 12

Segundo Elize Matsunaga, traição motivou crime contra o marido, Marcos Kitano Matsunaga, que foi esquartejado

Leonardo Guandeline

leonardo.guandeline@sp.oglobo.com.br

Guilherme Voitch

guilherme.voitch@sp.oglobo.com.br

ELIZE chega ao departamento de homicídios para prestar depoimento

MARCOS, ELIZE, a filha do casal e a babá chegam

NA MANHÂ do domingo, Elize desce com as malas

MARCOS volta à portaria para buscar uma pizza

DOZE HORAS depois, retorna sozinha ao prédio

Diogo Moreira/Frame

Reproduções/Câmeras do prédio

SÃO PAULO. A técnica em enfermagem e bacharel em Direito Elize Matsunaga, de 38 anos, confessou ontem que, por ciúmes, matou e esquartejou o marido, o empresário Marcos Kitano Matsunaga, de 42 anos, diretor-executivo e neto do fundador da Yoki Alimentos. Elize revelou a autoria, segundo a polícia, em um depoimento que durou mais de oito horas. Ela garantiu que agiu sozinha, mas a polícia desconfia da versão.

"Doutor, eu vou confessar. Fui eu. Nós tivemos uma discussão. Eu soube que ele estava me traindo. Eu dei o tiro", disse Elize, segundo relato do delegado Jorge Carrasco, logo que começou a ser ouvida, por volta das 10h. Durante o depoimento, ela chorou diversas vezes e perguntou pela filha de um ano, que está em seu apartamento com uma tia.

De acordo com o delegado - que é diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) -, Marcos Matsunaga foi morto com um tiro na cabeça, à queima-roupa, após uma discussão com a mulher:

- Eles tiveram uma discussão conjugal por conta de uma traição. Ela diz que houve uma agressão por parte do marido, fato que fez com que ela atirasse na vítima.

Elize usou uma arma calibre 380, que havia ganhado do marido. Havia várias armas espalhadas pela casa. Segundo Elize, o casal temia arrastões no prédio, que fica na Vila Leopoldina, Zona Oeste da capital paulista. Os vizinhos nada ouviram, segundo o delegado, porque os vidros do imóvel, uma cobertura (dois apartamentos duplex unidos, que somam mais de 500 metros quadrados), são aintirruído.

O empresário foi morto por volta das 20h do dia 19 de maio, um sábado, após chegar, uma hora e meia antes no apartamento onde morava, acompanhado da mulher, da filha de um ano e de uma das duas babás, que foi dispensada logo em seguida. As câmeras de segurança do prédio ainda flagraram o empresário descendo na portaria para pegar uma pizza por volta das 19h.

Elize disse que a discussão começou logo em seguida. Ela mostrou a ele que sabia de traições amorosas e revelou a ele ter contratado um detetive particular para segui-lo. No meio da discussão, Marcos a teria agredido e ela reagiu com o tiro. Após atirar contra Marcos, Elize contou que arrastou o corpo para um quarto de serviço, deixando-o lá cerca de dez horas. Por volta das 6h do dia seguinte, um domingo, ela esquartejou o corpo utilizando uma faca com lâmina de 30 cm, usada na cozinha da residência.

Esquartejamento após dez horas do assassinato

De acordo com Carrasco, Elize teria aproveitado o conhecimento de enfermeira - já que trabalhou em clínica cirúrgica - para cortar o corpo de Matsunaga. Para evitar o derramamento de sangue ela só começou o esquartejamento cerca de dez horas depois do crime. A polícia contou que Elisa começou os cortes pelos membros, passando depois pelo tronco e em seguida pela cabeça. Os pedaços foram colocados em sacos plásticos e dispostos dentro de três malas.

- Ela é técnica em enfermagem e exerceu a profissão inclusive em centros cirúrgicos. O fato de o corpo ter ficado dez horas num dos aposentos causou a chamada rigidez cadavérica e a posterior coagulação do sangue - disse o delegado Carrasco, explicando que, possivelmente por esse motivo, a polícia não encontrou muitos vestígios de sangue no apartamento do casal.

Às 11h30m do dia 20, Elize foi vista deixando o apartamento com as três malas de viagem. Ela disse ao porteiro que estava partindo em viagem para visitar parentes em Londrina, no Paraná. Ela retornou ao prédio mais de 12 horas depois, alegando ter desistido da viagem, mas já estava sem as malas. Nesse período, diz a polícia, a técnica em enfermagem desovou os pedaços do corpo em uma região de mata em Cotia, na Grande São Paulo.

A polícia ainda investiga se Elize contou com a ajuda de alguém para se livrar das partes do corpo do marido. Para a família do empresário, Elize havia dito que Marcos deixou o apartamento com algumas roupas depois de uma discussão com ela. Afirmou ainda que suspeitava de que ele poderia ter sido vítima de sequestro.

Ainda de acordo com a polícia, os funcionários do casal, incluindo duas babás - uma que foi dispensada pouco antes do crime - e outra que chegou ao apartamento na manhã seguinte (dia 20), quando o empresário já havia sido esquartejado - , serão ouvidas no decorrer das investigações. Embora a versão delas possa ajudar, de acordo com o delegado, os funcionários tinham acesso restrito a alguns cômodos da casa e foi em um deles, inacessíveis a elas, que Elize disse ter esquartejado o marido: na banheiro do quarto da empregada doméstica, onde as babás não tinham permissão para entrar.

A polícia investigará se tudo que Elize confessou é verdade. E apresentou duas provas contra ela: os sacos plásticos encontrados no apartamento, iguais aos usados para esconder o corpo, e a análise do sinal do celular indica que ela esteve na região onde o corpo foi abandonado.

O advogado da família, Luiz Flávio D'Urso, disse que os parentes de Marcos ficaram chocados com a confissão do crime:

- A família está perplexa e sofrendo mais uma vez com essa revelação.