Título: Quase a totalidade dos CDBs do Cruzeiro do Sul já foi resgatada
Autor:
Fonte: O Globo, 07/06/2012, Economia, p. 24

SÃO PAULO e RIO . Quase todos os CDBs com cláusulas de recompra que o Banco Cruzeiro do Sul tinha no mercado já foram resgatados desde segunda-feira, quando a instituição entrou no Regime de Administração Especial Temporária (Raet), determinado pelo Banco Central. Mesmo tendo ficado desconectado do Sistema Brasileiro de Pagamentos (SBP) por causa da intervenção, R$ 70 milhões dos cerca de R$ 100 milhões que o banco tinha em papéis com liquidez diária haviam sido resgatados pelos investidores. O Fundo Garantidor de Créditos (FGC, controlado pelos grandes bancos), que comanda a intervenção no Cruzeiro do Sul, recusou outros pedidos de resgate de clientes cujos CDBs não venceram ainda.

- É natural (que os clientes resgatem títulos). Estamos com o caixa do banco programado para todos os vencimentos - disse o diretor-executivo do FGC, Antonio Carlos Bueno.

Ele disse ainda que o BC encontrou mais de 300 mil contratos irregulares, no valor de R$ 1,3 bilhão. Esses contratos, gerados pela central de processamento do banco no Rio, referem-se a financiamentos consignados. O FGC manterá três pessoas no escritório carioca do banco durante a intervenção.

O Cruzeiro do Sul voltou ontem à Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Logo antes da abertura do pregão, foi oferecido um lote de 2 mil ações preferenciais do banco, por apenas R$ 1,01, um tombo de 86,71% em relação ao fechamento de sexta-feira (R$ 7,60). Isso levou a Bovespa a realizar seis leilões especiais durante o dia. O papel terminou em queda de 42,10%, a R$ 4,40, a maior desde a abertura de capital, em 2007. Foram negociados R$ 337,2 mil no dia, o que resultou na perda de quase metade do valor de mercado do banco (R$ 433,1 milhões), para R$ 595,6 milhões.

Luis Octavio Índio da Costa, ex-presidente e controlador do Cruzeiro do Sul, rebateu reportagem do jornal "Valor Econômico", sobre a venda de ações preferenciais do banco em 18 de maio, perto da intervenção. ele negou que a operação tivesse algum propósito especulativo. Segundo o executivo, o leilão dos papéis foi devidamente comunicado ao mercado e tanto ele como seu pai, Luis Felippe Índio da Costa, estavam "integralmente expostos" aos efeitos econômicos da operação.

Luis Felippe foi multado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em maio de 2010, em R$ 400 mil, por operações irregulares de contratos de câmbio. No mesmo processo, a corretora Cruzeiro do Sul foi multada em R$ 400 mil. A CVM condenou envolvidos num jogo conhecido como "esquenta-esfria", que teria produzido lucro de R$ 21,9 milhões para um lado e prejuízos de R$ 21,9 milhões para outro. Quem lucrou, segundo o processo da CVM, teria como objetivo "conferir origem lícita a recursos já possuídos" e quem perdeu "reduziria eventual lucro tributável". Índio da Costa, então diretor responsável pelas operações de dólar, intermediou transações para o Banco Rendimento em 2002. Ele atualmente recorre d a decisão.