Título: Chávez quer 20 anos no poder
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 12/06/2012, O Mundo, p. 26

Em 5 de dezembro de 1998, um dia antes de disputar pela primeira vez a Presidência da Venezuela, Hugo Chávez assegurou, em entrevista ao canal de TV Univisión, que seu objetivo era construir uma democracia plena e que estava disposto a entregar o poder após terminar os cinco anos de mandato. Pouco tempo depois, o líder bolivariano reformou a Constituição e convocou novas eleições, que venceu, no ano 2000. Em 2006, foi reeleito pela segunda vez e no ano passado, após anunciar que tinha câncer, assegurou estar "decidido a governar até 2031". Um dia depois de o adversário, Henrique Capriles Radonsky, ter caminhado dez quilômetros para se inscrever no pleito de 7 de outubro, Chávez percorreu os mil metros que separam o Palácio Miraflores do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) num trio elétrico, para confirmar sua quarta candidatura à Presidência.

Se derrotar Capriles e superar os problemas de saúde, Chávez, de 57 anos, completará 20 anos no poder. Após meses de ausência, silêncios, internações e cirurgias em Cuba para tratar um câncer, a presença de Chávez no CNE provocou euforia entre partidários. Durante o percurso, o presidente, que vestiu um casaco com as cores da bandeira do país (azul, vermelho e amarelo) e usou sua tradicional boina vermelha, agradeceu o apoio das milhares de pessoas que o acompanharam, numa verdadeira maré vermelha. As imagens da TV estatal Venezolana de Televisión mostraram um chefe de Estado bem disposto e de bom humor, que entregou ao CNE um programa de governo para o período 2013-2019.

- Me comprometo a reconhecer, diante da Venezuela e do mundo, o resultado das eleições - declarou.

Música típica e microfone dividido

Do lado de fora, uma multidão gritava "uh, ah, Chávez não se vá". Depois de mostrar o registro de inscrição, o chefe de Estado se dirigiu a um palanque e cantou algumas músicas llaneras (típica do país). Numa dinâmica diferente da de épocas passadas, Chávez, que sempre foi o único orador de seus atos públicos, cedeu a palavra ao ex-vice-presidente José Vicente Rangel. Minutos depois, começou o esperado discurso do candidato do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV):

- Quero agradecer a Deus por estar aqui hoje.

O presidente lembrou que na véspera completara um ano de sua primeira cirurgia em Cuba.

- Foi um ano difícil e também enfrentamos a guerra psicológica do adversário dizendo que Chávez estava morrendo em Havana, que andava em cadeira de rodas... Aqui estou novamente, em nome da pátria, inscrevendo minha candidatura - disse. - Venceremos por nocaute para que respeitem a pátria os esquálidos (opositores), burgueses e imperialistas.

Dirigente chavistas como o deputado Aristóbulo Istúriz, ex-ministro da Educação, compararam a manifestação com a de abril de 2002, quando Chávez voltou ao poder após ser derrubado por um golpe cívico-militar que o afastou durante 48 horas do governo. Apesar do discurso otimista dos partidários e do esforço do governo para mostrar um presidente em plena recuperação, continuam os boatos sobre possíveis substitutos na disputa. A lista inclui o ministro das Relações Exteriores, Nicolás Maduro, e o vice-presidente Elias Jauá. Alheios a especulações, Chávez e seguidores mostram-se seguros da reeleição. No sábado passado, o presidente declarou que os últimos exames médicos realizados após a conclusão do tratamento de radioterapia deram bons resultados.

Além de ter participado de três eleições presidenciais, o líder bolivariano disputou três referendos nacionais, dos quais perdeu apenas um, em 2007, sobre um projeto de reforma constitucional. Em 2004, Chávez venceu o plebiscito sobre sua permanência no poder, e em 2009, a consulta sobre uma emenda constitucional que passou a permitir a reeleição indefinida do chefe de Estado.