Título: Gerente de Lula volta a pôr o pé na estrada
Autor: Foreque, Flávia
Fonte: Correio Braziliense, 17/09/2009, Política, p. 9

Depois de um período de descanso, por recomendação médica, Dilma Rousseff retoma agenda de pré-candidata

Dilma e Lula durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico: agenda cheia ao lado do presidente

Após sair de férias, na semana passada, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pretende voltar à rotina de viagens ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e reforçar sua imagem à frente do programa Minha Casa, Minha Vida. A candidata do Planalto às eleições presidenciais deve assumir ainda os dividendos pela descoberta da camada pré-sal. O governo pretende, com os recursos da extração do petróleo, investir em educação, meio ambiente, ciência e tecnologia e combate à pobreza.

O governo conta também com a retomada do crescimento econômico e o aumento na geração de empregos, já sentida em agosto. O próprio presidente Lula fez questão de destacar que o país vai criar 1 milhão de vagas até o fim do ano.

O presidente Lula deu a senha de como será a aproximação da ministra com o eleitorado a partir de agora. ¿A Dilma tem compromissos no governo até que haja convenção partidária e liberação dela. Porque ela é a coordenadora do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), coordenadora do programa Minha Casa, Minha Vida, e essas coisas, se você não ficar em cima, não andam. E ela tem que cuidar disso de forma prioritária¿, afirmou.

O presidente comparou ainda a campanha eleitoral a uma maratona: ¿Quem ganha nunca sai correndo de forma atabalhoada. Vai devagar até chegar¿, comentou. E acrescentou: ¿Não há por que ter pressa, em querer ser candidata com antecedência¿. A declaração foi em resposta a perguntas sobre as pesquisas eleitorais, em que Dilma aparece em segundo lugar.

O lançamento de uma lei do petróleo ocupou, nos últimos meses, boa parte da agenda da ministra, que liderou, ao lado do colega Edison Lobão, de Minas e Energia, a elaboração dos quatro projetos de lei enviados ao Congresso Nacional. ¿A ministra trabalhou muito forte durante todo o tratamento¿, afirmou o líder do PT na Câmara, CândidoVaccarezza.

Com a descoberta, no início do ano, de um câncer linfático, Dilma teve que conciliar o trabalho com sessões de quimio e radioterapia. Foi justamente por recomendação médica que a ministra da Casa Civil reservou alguns dias para descansar. Também foi neste mês, em entrevista a uma rádio gaúcha, que ela afirmou estar curada da doença. Foi o caminho natural para retomar a rotina de trabalhos e viagens ao lado do presidente Lula.

Na última segunda-feira, Dilma cumpriu agenda com o petista em visita a Roraima, único estado que ainda não havia sido visitado por Lula nos dois mandatos. A ministra aproveitou para, em seu discurso, ressaltar a importância das regiões Norte e Nordeste para o país.

Ainda nesta semana, Dilma deve acompanhar o presidente em viagem aos estados do Sul. Lula deveria cumprir agenda apenas no Paraná e no Rio Grande Sul, mas depois do encontro com a bancada de Santa Catarina, o presidente se programa para visitar também as regiões do estado mais atingidas pelas chuvas.

Momento mágico

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que, em 2010, não haverá um candidato de direita na disputa presidencial, o que segundo ele, seria ¿fantástico¿. ¿Vocês querem conquista melhor do que numa campanha neste país a gente não ter um candidato de direita? Porque antigamente (a campanha) era o de centro-esquerda ou de esquerda, contra os trogloditas da direita¿, afirmou o petista em discurso durante evento de comemoração dos 45 anos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Lula afirmou ainda que a relação entre direita e esquerda começou a melhorar na disputa eleitoral entre ele e o tucano Fernando Henrique Cardoso e que o nível permaneceu elevado nas eleições de 2002, quando o petista enfrentou o atual governador de São Paulo, José Serra (PSDB), no segundo turno. ¿Depois, eu e Alckmin baixamos o nível. Por conta dele, não por minha conta¿, alfinetou.

O presidente disse que a novidade na campanha presidencial de 2010 será o fato de os candidatos ao Palácio do Planalto terem de apresentar propostas para o futuro do Brasil, sem necessidade de debates sobre inflação e desemprego. Em seu discurso, Lula sugeriu alguns temas que deverão entrar na pauta dos candidatos, como a questão ambiental e a exploração da camada do pré-sal(1).

No mesmo dia em que o governo anunciou a criação de cerca de 242 mil empregos no mês de agosto, o melhor resultado do ano, o presidente voltou a destacar as iniciativas adotadas por sua equipe no combate aos efeitos da crise econômica no Brasil. ¿Estamos vivendo quase que um momento mágico neste país¿, avaliou.

1 - O fundo da riqueza As reservas de pré-sal receberam esse nome porque estão a uma profundidade de 7 mil a 8 mil metros abaixo da camada de sal, numa faixa de 800 quilômetros entre o Espírito Santo e Santa Catarina. Estudos indicam um potencial de produção em torno de 100 bilhões de barris de óleo equivalente ¿ o que colocaria o país entre os 10 maiores produtores do mundo.

Quem ganha nunca sai correndo de forma atabalhoada. Vai devagar até chegar. Não há por que ter pressa, em querer ser candidata com antecedência¿

Luiz Inácio Lula da Silva, sobre a posição de Dilma Rousseff nas pesquisas eleitorais

Aécio reafirma prévias

Daniela Almeida

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, disse ontem que defende as prévias no PSDB para a definição do candidato do partido às eleições presidenciais de 2010. ¿Nenhuma candidatura pode ser imposta. Candidatura imposta está fadada ao fracasso. O PSDB tem a virtude de ter um nome como o governador José Serra; nós temos um outro perfil e, portanto, somos uma outra alternativa. Nós temos um belo dilema, um dilema que acredito que vários outros partidos gostariam de ter¿, disse.

¿No tempo certo, vamos avaliar as pesquisas, a possibilidade de ascensão de cada candidato, a capacidade de buscar novas alianças e a menor rejeição como estímulo ao crescimento a cada uma das candidaturas. Nós temos tempo para isso¿, completou.

Lei Kandir

Além de abordar a questão da sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Aécio admitiu que o governo de Minas Gerais pode cortar os incentivos fiscais relacionados ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para as empresas exportadoras caso a União mantenha a decisão de não colocar na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) previsão de recursos para compensar os estados pelas perdas com a Lei Kandir. O estado teria direito a R$ 719 milhões.

De acordo com o governador, as estimativas são de que os estados percam em torno de R$ 20 bilhões por causa da desoneração das exportações em todo o país. ¿Historicamente, até o governo do presidente Fernando Henrique, essa compensação ficava entre 45 e 50%, o resto era a perda dos estados. Era uma desoneração compartilhada, uma corresponsabilidade para estimular o poder exportador, que gera renda, divisas na nossa balança comercial, gera empregos. O que vem acontecendo no governo do presidente Lula é que essa participação do governo federal vem minguando. No último ano, ela estava em torno 17% do total das perdas e agora, por essa proposta, ela zera¿, explica.

A justificativa para a exigência dos estados pela compensação são os investimentos de infraestrutura, segurança, saúde, educação onde as empresas estão instaladas e em rodovias para escoamento de produção. ¿Essa será a consequência natural, não apenas em Minas, mas em outros estados brasileiros. Não pela vontade dos governos, mas pela incapacidade da União em honrar esses créditos. Eventualmente, ela acha que prejudica apenas os estados e o que já não seria adequado, mas ela atinge frontalmente o setor exportador, que é um setor altamente empregador no Brasil. É como se o governo federal dissesse: olha, o setor exportador não é importante para nós.¿