Título: FH: Dilma é quem deve se preocupar com Lula
Autor: Uribe , Gustavo
Fonte: O Globo, 13/06/2012, O País, p. 10

SÃO PAULO. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem que a presidente Dilma Rousseff tem de se preocupar com a disposição de seu antecessor no Palácio do Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva, de voltar à Presidência da República em 2014. Em entrevista, na semana retrasada, ao Programa do Ratinho, Lula reconheceu que pode disputar a sucessão presidencial caso a atual presidente não queira se lançar à reeleição em 2014, em uma manobra para evitar que os tucanos retornem ao Palácio do Planalto.

O ex-presidente avaliou o tom crítico do seu antecessor contra o PSDB como uma "bazófia" e afirmou que ele sempre adotou um discurso "um pouco agressivo". FH participou ontem de manhã do painel "Os caminhos a serem percorridos pelo Brasil", no Congresso Internacional de Varejo, na capital paulista.

- O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre teve esse discurso um pouco agressivo, é do estilo dele. Agora, depende do povo, o povo que vai decidir quem será o próximo presidente. É uma bazófia do ex-presidente, é o estilo dele de "vou fazer" e "vou acontecer". Desconto a declaração pelo estilo dele, não é para levar ao pé da letra. Quem está preocupado não são os tucanos, mas a presidente Dilma Rousseff, ela que tem de se preocupar com essa disposição do Lula - afirmou.

FH defendeu que o julgamento do processo do mensalão, marcado para agosto, seja objetivo, e não considerou que seja "o melhor caminho" pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF). Na avaliação dele, ou os tribunais são respeitados ou não há democracia no Brasil. Fernando Henrique frisou que, se for verdadeira a informação de que Lula pediu ao ministro Gilmar Mendes para adiar o julgamento do mensalão, houve uma tentativa de pressionar a Suprema Corte. O ex-presidente tucano discordou da tese, de alguns líderes petistas, de que a mídia tem pressionado pela condenação dos réus do escândalo político:

- O que é preciso é que o Supremo Tribunal Federal julgue, que faça um julgamento objetivo. Não acredito que seja o melhor caminho pressionar a Suprema Corte. Uma vez nas mãos dos tribunais, ou nós respeitamos os tribunais ou não há democracia. A mídia noticia e, ao noticiar, ela procura sempre dar o outro lado. Mesmo que a mídia diga o que quiser, o STF tem demonstrado independência - completou.