Título: Mercados voltam a cobrar mais por bônus de Espanha e Itália
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 15/06/2012, Economia, p. 26

Ágio sobre papéis espanhóis chega a 7%, nível considerado insustentável

MADRI, ROMA e RIO. O anúncio do corte do rating soberano da Espanha em três graus, para Baa3, na quarta-feira à noite pela agência de classificação de riscos Moody"s, pressionou ontem ainda mais o ágio cobrado sobre os títulos de dívida do país. Os ganhos dos títulos espanhóis subiram ontem acima de 7%, avançando 25 pontos básicos, para 7,07%, patamar considerado insustentável a médio prazo.

Já os custos dos títulos de três anos da Itália saltaram para 5,3%, revelando a pressão dos mercados sobre o país, visto como o próximo a enfrentar dificuldades e a ser socorrido. A Itália vendeu o total dos 4,5 bilhões em títulos de três anos postos no leilão. O ágio de 5,3% cobrado ontem se compara aos 3,91% do último leilão, em 14 de maio. Ontem, o país foi palco de violentos protestos em Roma de ativistas contra o plano de austeridade.

Segundo economistas, os custos em níveis elevados dos títulos soberanos dos países com problemas na zona do euro revelam a desconfiança do mercado sobre a eficácia das soluções adotadas até agora e a necessidade de medidas que permitam também crescimento.

- O que se percebe agora é que os investidores estão mais preocupados do que antes, quando acreditavam que apenas um pacote financeiro resolveria o problema. Foi o que vimos acontecer com a Espanha - diz Alex Agostini, economista da Austin Ratings.

Segundo ele, o custo de financiamento dos países também reflete preocupação sobre os credores da dívida. Dados do Banco Central Europeu (BCE) mostram que bancos, fundos de pensão e companhias de seguro têm 58,5% da dívida da Espanha, que chegou a 734 bilhões no fim de 2011.

- Não adianta criar uma linha de 100 bilhões para ajudar bancos, como ocorreu na Espanha no último fim de semana, se eles não tem a quem emprestar os recursos. O desemprego é muito alto no país. E isso só se resolve com crescimento - diz Agostini.

Mercados temem círculo vicioso na zona do euro

Segundo Francisco Pessoa, economista da LCA Consultores, os mercados temem um circulo vicioso de "austeridade e recessão" na região. Ou seja, mesmo os países cortando gastos públicos, o baixo crescimento econômico impediria que o peso do endividamento do país caia em relação ao seu Produto Interno Bruto (PIB).

- O mercado precisa de uma solução final. Isso não se consegue com injeção de liquidez - disse Pessoa.

Os economistas acreditam que as eleições na Grécia no próximo fim de semana serão determinantes para os rumos dos países europeus. Em relatório, o BofA Merril Lynch avalia que, com 150 parlamentares, o partido Nova Democracia conseguirá formar um governo sem a necessidade de apoio dos pequenos partidos da Grécia.

Na Espanha, os principais bancos expostos ao endividamento são Santander (59,37 bilhões de euros), Banbo Bilbao (56,47 bilhões), BBV (7,269 bilhões), segundo dados da Bloomberg. Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas do país os preços dos imóveis sofreram uma queda de 12,6% no primeiro trimestre. Foi a maior queda já registrada desde que o instituto começou a compilar esses dados, em 2007. Em Madri, é possível ver placas de "vende-se" nos balcões e janelas dos imóveis, num retrato da crise no setor.

* Com agências internacionais