Título: Zoghbi se explica no Senado
Autor: Brito, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 17/09/2009, Política, p. 11

Ex-diretor da Casa alega que não perdeu direito a um apartamento funcional apesar de ter uma casa em construção no Lago Sul

Zoghbi diz não ter cortado o ¿vínculo pessoal¿ com o apartamento, onde guardava objetos pessoais

O ex-diretor de Recursos Humanos do Senado João Carlos Zoghbi afirmou ontem à comissão de Processo Administrativo Disciplinar criada para investigar o suposto uso irregular de imóvel funcional por ele que jamais cortou o vínculo pessoal com o apartamento que era usado pela ex-mulher de um de seus filhos, Ricardo Araújo Zoghbi. À comissão, ele disse que, embora tenha se mudado para uma casa em construção no Lago Sul, sempre ia ao apartamento funcional na 202 Norte, uma vez que lá estavam, segundo disse no depoimento, pertences e objetos pessoais seus e de sua mulher, Denise Zoghbi.

¿Ele (Zoghbi) nunca perdeu o vínculo de uso daquele imóvel funcional¿, afirmou Getúlio Humberto Barbosa de Sá, que o acompanhou no depoimento reservado de uma hora na tarde de ontem, em uma sala do Interlegis, no anexo I do Senado. Em março, o diretor deixou a chefia dos Recursos Humanos da Casa, cargo que ocupava havia 15 anos, depois que o Correio revelou o uso do apartamento funcional por familiares.

Segundo o advogado do ex-diretor, a casa no Lago Sul era ocupada provisoriamente por Zoghbi e Denise, uma vez que estava em reforma. A casa de luxo, conta o defensor, nem sequer tinha armários. Por isso, de acordo com Getúlio Humberto, Zoghbi ia ao apartamento para pegar roupas, documentos e até fazer refeições. Desde o início da ocupação do apartamento de 180 metros, em 1999, o casal Zoghbi, o filho e a ex-nora lá moravam. Depois, com a separação do casal, segundo o advogado, é que lá passou a residir Carla Santana de Oliveira.

Desfecho

Zoghbi entregou o imóvel dias após ter perdido o cargo, e o processo disciplinar contra ele foi aberto em 10 de agosto. O defensor de Zoghbi disse que ele esclareceu o uso do imóvel funcional e está confiante de que, no fim dos trabalhos da comissão, prevista inicialmente para durar 60 dias, o ex-diretor será absolvido. Os processos disciplinares podem resultar até em demissão de Zoghbi do serviço público. ¿Ele está dentro das normas para a utilização do imóvel¿, declarou Getúlio Humberto.

O ex-diretor de RH é alvo ainda de outros dois processos disciplinares. O primeiro busca esclarecer a participação dele em negociações que envolvem a concessão de empréstimos (1)consignados para funcionários do Senado. A ex-babá do diretor, Maria Isabel, 83 anos, era dona de uma empresa que intermediava contratos entre bancos e funcionários na própria Casa, a Contact. Zoghbi já foi ouvido nesse processo administrativo. Por esses fatos, ele foi indiciado pela Polícia Federal no início de agosto por formação de quadrilha, inserção de dados falsos em sistema de informação e concussão, por ter direcionado contratos do Senado para a empresa de sua ex-babá. Ele ainda tem que esclarecer sua atuação na edição de atos secretos no Senado. Zoghbi não foi ouvido nesse processo.

1 - Contact A empresa da babá de João Carlos Zoghbi recebeu, pelo menos, R$ 2,2 milhões do Banco Cruzeiro do Sul para prestar serviços de intermediação de contratos no Senado.