Título: Agnelo nega relações com Cachoeira e oferece à CPI a quebra de seus sigilos
Autor: Souza , André de
Fonte: O Globo, 14/06/2012, O País, p. 3

Citado em conversas gravadas pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), negou ontem, em depoimento de quase dez horas à CPI do Cachoeira, que tenha qualquer relação com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e com dirigentes da Delta Construções. Em tentativa de fazer um contraponto ao governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), que depôs no dia anterior, Agnelo ofereceu à comissão a quebra de seus sigilos bancário, fiscal e telefônico. O governador teve dificuldades, porém, para explicar a compra de uma casa em 2007 por R$ 400 mil e a intermediação da visita que fez à Vitapan, empresa de Cachoeira, em 2009.

Também foi lacônico ao falar das providências tomadas contra o soldado da PM João Dias, que, ano passado, jogou mais de R$ 100 mil em sala do Palácio do Buriti, dizendo que estava devolvendo dinheiro que teria recebido para deixar de fazer denúncias. Dias foi o pivô do escândalo das ONGs que resultou na queda do ex-ministro Orlando Silva do Ministério do Esporte. Durante o interrogatório, Agnelo acusou repetidas vezes a organização de Cachoeira de conspirar contra seu governo, porque ele teria contrariado os interesses da construtora Delta,uma das empresas contratadas para coleta do lixo no Distrito Federal. Depois de falar por uma hora na abertura da sessão, o governador abriu mão dos sigilos bancário, fiscal e telefônico.

- Sei que não é usual uma testemunha fazer o que peço. Mas ofereço dar à CPI todos os meus sigilos. Ouvi alguns dias atrás de um homem do povo o velho adágio segundo o qual quem não deve não teme - disse o governador.

A bancada petista, que compareceu em peso para garantir apoio a Agnelo, aplaudiu a iniciativa do governador. Os tucanos, que fizeram a defesa de Perillo na terça-feira, minimizaram o gesto. Segundo eles, Agnelo ofereceu os sigilos porque as informações já estariam disponíveis no inquérito contra ele no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Alegaram também que o prazo de cinco anos não alcança a compra da casa, em março de 2007. O líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE), disse que Perillo telefonou informando que também liberaria a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico. Em meio à discussão, ficou acertado que hoje a CPI volta a se reunir para votar a quebra dos sigilos de Agnelo e também de Perillo.

Agnelo afirmou ter frustrado as táticas da organização de Cachoeira de se infiltrar no governo do Distrito Federal. Os contratos existentes foram auditados e tiveram valores reduzidos. A licitação para a bilhetagem eletrônica foi suspensa. O governador lembrou ainda que, por ter contrariado os interesses da quadrilha, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) pediu o impeachment dele em novembro do ano passado. Demóstenes era o agente político de Cachoeira, como indicam as gravações da PF.

- A organização aqui investigada tramou a minha derrubada. E não agiu sozinha. Valeu-se das falsas acusações plantadas no noticiário. Valeu-se da boa-fé de pessoas ao misturar mentiras e meias verdades. Tudo com o objetivo de desgastar, desestabilizar e, por fim, me retirar do governo do Distrito Federal - disse o governador.

Agnelo rebateu irregularidades em sua evolução patrimonial. Ele explicou que comprou a casa onde mora no período em que estava sem mandato, ressaltando que tanto ele quanto a mulher são médicos e teriam condições de adquirir o imóvel. O governador falou sobre o tema ao responder ao relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), que mencionou reportagem do GLOBO, do último domingo, que mostra que o patrimônio de Agnelo cresceu quase 12 vezes de 1998 a 2010.

O governador perdeu a desenvoltura quando perguntado pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) sobre como pagou a casa. A resposta, segundo ele, estaria em sua declaração de renda. Agnelo também não respondeu quem intermediou sua visita à Vitapan, de Cachoeira, em 2009. Na época, o governador era um dos diretores da Anvisa.

- Ele disse que foi convidado pela empresa. Mas a empresa não fala. Quero saber quem o convidou. A empresa só tem três sócios: o Cachoeira, a mulher dele e um cunhado - provocou Sampaio.