Título: G-20 quer prioridade a crescimento na Europa
Autor: Barbosa , Flávia
Fonte: O Globo, 18/06/2012, Economia, p. 17

LOS CABOS (México). A Alemanha cedeu à pressão dos demais países que compõem o G-20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) e o documento final da cúpula de governantes, que começa hoje no México, expressará o compromisso da zona do euro com a busca de políticas que incentivem a retomada do crescimento na região. No entanto, os alemães ainda resistem a tornar este o foco do plano de recuperação e insistem em dar peso considerável à consolidação fiscal dos países endividados como solução da crise.

As negociações técnicas, que acontecem desde quinta-feira em Los Cabos, refletem mudança gradual de discurso da chanceler alemã, Angela Merkel. Ela está sob pressão dos principais líderes internacionais para relaxar a restrição fiscal imposta aos países europeus nos últimos anos, como saída à crise da dívida soberana.

- Até a cúpula de Cannes (em novembro passado), os europeus abriam muito pouco espaço para o componente crescimento nos compromissos. Mas o balanço de forças mudou e há impacto da pressão internacional. Funcionou. Haverá um parágrafo de Europa no documento desta cúpula que expressará o compromisso com um movimento geral para encontrar formas de se estimular o crescimento - afirmou ao GLOBO uma fonte que participa das negociações.

Alemães oferecem resistência sobre quão abrangente será esta busca do crescimento, para evitar a mensagem de que a zona do euro tratará como secundária a reestruturação fiscal de Espanha, Grécia, Itália e Portugal. Os negociadores buscam uma forma de expressar um receituário geral. Por exemplo, na diferença de tratamento entre despesas com infraestrutura e com a máquina administrativa. Na última semana, autoridades europeias deram indicações de que a qualificação das despesas pode ser um dos principais alvos do novo plano de resgate, que será aprovado pelos 17 países que utilizam o euro na reunião de cúpula dos dias 28 e 29 de junho.

Outro ponto importante será a união bancária, com uma supervisão politicamente mais forte. Cogita-se que o Banco Central Europeu (BCE) poderá assumir este papel, no lugar da enfraquecida Autoridade Bancária Europeia. O documento final do G-20 terá um parágrafo sobre regulação bancária.

A presidente Dilma Rousseff chegou ontem a Los Cabos. Ela participa na manhã de hoje de reunião dos chefes de Estado e governo do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Além de alinhavar posições, o bloco vai decidir se anuncia o valor do aporte ao colchão de proteção global de US$ 430 bilhões. No sábado, tentando demonstrar o clima de concertação internacional para resgatar o mundo da crise, o presidente do México, Felipe Calderón, que preside o G-20, disse que o chamado firewall do FMI pode até crescer. Dilma terá ainda encontro com o primeiro-ministro da Itália, Mario Monti. A "Declaração de Los Cabos" será divulgada na tarde de terça-feira.