Título: CPI quebra sigilos de Perillo e de Agnelo desde 2002
Autor: Gois, Chico de; Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 15/06/2012, O País, p. 3

Convocação de Pagot, ex-diretor do Dnit, é barrada por parlamentares , o que gera críticas à falta de investigação

BRASÍLIA. Numa sessão tensa, a CPI Mista do Cachoeira aprovou ontem a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico, pelo período de dez anos, dos governadores Agnelo Queiroz, do Distrito Federal, e Marconi Perillo, de Goiás. Mas, como fez com o ex-presidente da Delta, Fernando Cavendish, barrou a convocação do ex-diretor do Dnit, Luiz Antônio Pagot.

A rejeição do requerimento para ouvir Pagot irritou parlamentares que sustentam querer investigar o esquema de Carlinhos Cachoeira. O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) protestou contra a decisão da CPI e disse que Pagot tem sim relação com a quadrilha do bicheiro de Goiás:

- Temos que descer no porão aqui para investigar e sair dessa disputa política - disse o senador do PSOL, numa referência ao local onde fica o cofre com os documentos remetidos à CPI e que não estão sendo examinados.

Randolfe leu trechos de gravações feitas pela Polícia Federal em que os integrantes da quadrilha reclamam da atuação do diretor do Dnit e tramam sua queda.

- Se não começarmos a investigar, a CPI vai ficar com ar de café com leite - ironizou o senador Pedro Taques (PDT-MT)

Em meio a polêmica, a CPI aprovou por unanimidade a convocação de Andressa Mendonça, mulher de Cachoeira; de Lúcio Fiúza, ex-assessor especial para Assuntos Sociais do governador Perillo; e do jornalista Luiz Carlos Bordoni, que diz ter recebido R$ 40 mil em dinheiro das mãos de Perillo, como pagamento por serviços de campanha financiados por uma empresa do esquema de Cachoeira.

Ao todo, foram aprovados 37 requerimentos, dos quais 12 referentes a convocações e 10 a quebras de sigilo. Os requerimentos de convocação e quebra de sigilo aprovados ontem giram em torno de Perillo. A Faculdade Padrão, do empresário Walter Paulo Santiago, que diz ter comprado a casa do governador de Goiás, teve quebrado os seus sigilos fiscal, bancário e telefônico. O mesmo ocorreu com as empresas Mestra Administração e Participações Ltda e GM Comércio de Pneus e Peças Ltda.

Walter Paulo já foi ouvido pela comissão. Lúcio Fiúza, por sua vez, também terá abertos os sigilos bancário e fiscal. Outro que foi convocado a depor é Hillner Ananias, ex-assessor do senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO). A comissão aprovou requerimento de informações ao subprocurador-geral da República Geraldo Brindeiro. Os alvos são as transferências de dinheiro à pessoa jurídica Morais, Castilho e Brindeiro Sociedade de Advogados, feita pelo tesoureiro do contraventor Carlinhos Cachoeira, Geovani Pereira da Silva, que está foragido. O requerimento foi apresentado pelo senador Pedro Taques (PDT-MT), que também solicita providências por parte da Procuradoria-Geral da República.

A quebra dos sigilos de Perillo e Agnelo já estava decidida desde a véspera e não gerou atritos. Os parlamentares concordaram que a abertura de dados fiscais, bancários, telefônicos e de comunicação de texto - e-mails e mensagens do tipo SMS - deveria abranger um período de dez anos, desde janeiro de 2002.

Motivo de polêmica, os depoimentos de Perillo e Agnelo foram citados como iniciativas pouco produtivas. Os dois foram até aplaudidos na CPI por seus correligionários. Parlamentares contrários à convocação de Cavendish e Pagot afirmaram que o comparecimento dos dois governadores jogou pouca luz sobre a investigação.

O relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), disse que espera receber as informações relativas a ligações telefônicas e mensagens num prazo de 15 dias. Cunha cobrou pressa do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça e do Banco Central no envio de documentos referentes a quebras de sigilo já aprovadas.

- O total das gravações (telefônicas interceptadas pela Polícia Federal) não veio ainda - lamentou Cunha.