Título: Sem interesse na investigação, base nem indica suplentes na CPMI
Autor: Krakovics, Fernanda
Fonte: O Globo, 15/06/2012, O País, p. 4

Com falta de engajamento de aliados, PT fica com tarefa de conduzir apuração

BRASÍLIA . Diante da falta de engajamento dos partidos aliados na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, principalmente do PMDB, o PT está cobrando que eles façam pelo menos o mínimo: preencham seis vagas de suplentes da cota do Senado que estão vagas - quatro do bloco PMDB, PP, PV e duas do bloco PTB, PR, PSC. Os petistas querem, sobretudo, o apoio dos aliados na guerra contra o PSDB na CPMI. Mas os aliados não parecem dispostos a ir para a comissão defender o governo e o partido da presidente Dilma Rousseff.

O PT foi o responsável pela criação da CPMI, e os demais partidos da base governista tiveram que ir a reboque. Agora, os aliados se dividem em três grupos: os que simplesmente não se interessam pela comissão parlamentar de inquérito, os que atuam para impedir a ampliação das investigações e os que desejam que a CPMI atinja o governo, para poder cobrar caro pelo apoio.

- Pediram que eu botasse meu nome lá (como suplente). Eu disse que podia botar, mas eu não vou aparecer lá, não. Quem pariu Mateus que o embale - afirmou o líder do PR, senador Blairo Maggi (MT).

Já o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL), disse que ninguém aceita ser indicado para a CPMI, por isso não consegue preencher as vagas de suplente. E negou que o partido seja desleal:

- Os líderes do PT me procuraram para que a gente indicasse os suplentes que estão vagos, não só do PMDB, mas também de outros partidos. O problema é que ninguém quer - disse Renan, acrescentando: - O PMDB votou contra a convocação do Agnelo (Queiroz, governador petista do Distrito Federal). Dizem que a gente votou contra, mas manobrou para que os outros votassem a favor. Isso não é verdade.

Um líder aliado afirmou que seu partido está disposto a ajudar, mas à conta-gotas. Diante da dificuldade de relacionamento do Palácio do Planalto com sua base no Congresso - principalmente a falta de atenção da presidente Dilma, que aboliu nos últimos meses a prática de receber os políticos em audiências separadas -, os parlamentares pretendem usar a comissão parlamentar de inquérito para ter, pelo menos, suas demandas atendidas, como cargos e liberação de emendas ao Orçamento da União.

- Qual o único jogo que a gente tem com o Planalto? E a gente vai entregar o jogo? - pergunta um desses líderes.

O presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), tentou explicar o papel de figurante adotado pelo partido, até agora, na CPMI:

- O PMDB é um partido equilibrado e vai continuar sendo - afirmou Raupp, dizendo que o PMDB procurou dar o mesmo tratamento aos governadores Marconi Perillo (GO), tucano, e Agnelo.

"PT se queixa do PMDB por não escalar primeiro time

Uma das reclamações do PT é que o PMDB não escalou deputados e senadores experientes para compor a comissão parlamentar de inquérito. Seus integrantes na comissão tratam mais das questões de interesses locais, como os deputados de Goiás e do Distrito Federal.

Do outro lado, uma das preocupações dos peemedebistas é com a investigação da Delta, já que a empreiteira tem contratos com governos comandados por eles, inclusive no Rio de Janeiro. Líderes do PMDB na Câmara e no Senado que não são integrantes da CPMI agem, nos bastidores, para evitar problemas, como o pedido de convocação do dono da empreiteira, Fernando Cavendish, derrubado ontem.