Título: Recuperação quase total
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 17/09/2009, Economia, p. 24

Vagas criadas até agosto deixam o país próximo de zerar perdas causadas pela crise. Governo quer gerar 1 milhão de empregos até o fim do ano

Lupi mostra-se favorável à redução da jornada de trabalho para 40 horas

Falta pouco para o mercado de trabalho brasileiro zerar a perda de empregos provocada pela crise econômica. Com o resultado de agosto, que registrou a criação de 242.126 postos de trabalho com carteira assinada, o saldo líquido acumulado no ano chega a 680.034. Nos meses agudos da crise, entre novembro de 2008 e janeiro deste ano, 797.515 vagas foram fechadas. Falta, portanto, um saldo líquido de 117.481 admissões para fechar a conta, o que, pelo ritmo de abertura de vagas no mês passado, pode ser alcançado em cerca de 15 dias.

Na divulgação dos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) ontem, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, estava exultante. O resultado de agosto surpreendeu o governo positivamente, o que levou Lupi a garantir que setembro, outubro e novembro registrarão recordes sequenciais. ¿Vamos gerar mais de 1 milhão de postos em 2009 e, no ano que vem, vamos bater em 1,8 milhão¿, assegurou. O melhor ano para o emprego até agora foi 2007, com a criação de 1,617 milhão de vagas com carteira assinada.

Em agosto, após nove meses consecutivos de queda, até a indústria metalúrgica conseguiu um resultado positivo: foram 5.982 empregos criados. Ao todo, a indústria de transformação registrou 66.564 novas vagas, ficando atrás somente do setor de serviços (85.568). ¿Os empresários subestimaram a força do mercado interno. Demitiram e agora estão tendo que contratar¿, disse Lupi.

O único setor que não teve um bom desempenho em agosto foi a agricultura, que queimou 11.249 postos de trabalho. A perda no setor deve-se a efeitos sazonais. O Centro-Sul do país está em plena entressafra. São Paulo, Minas Gerais e até mesmo a Bahia demitiram trabalhadores ligados ao cultivo do café. Já a construção civil apresentou, em agosto, a maior geração de vagas de toda a série histórica do Caged. Foram mais 39.957 postos de trabalho. O governo garante que, nesse impulso, ainda não está computado o programa Minha Casa, Minha Vida. ¿A construção civil já está aquecida e ainda tem potencial para crescer mais¿, disse Lupi.

Com a indústria dando o primeiro sinal concreto de que está deixando a crise para trás, ao mesmo tempo em que os principais centros agrícolas entram no período de entressafra, a curva do emprego se inverteu: a criação de novos postos de trabalho passou a ser maior no conjunto das áreas metropolitanas que no interior. São Paulo, por exemplo, registrou 77.983 admissões, o melhor resultado dos estados da região Sudeste (106.085).

No acumulado do ano, o comércio conseguiu reverter o quadro negativo observado até julho, passando a ter um saldo líquido de 51.171 novos trabalhadores. Segundo Lupi, as famílias não pararam de comprar e foi o consumo interno que sustentou as vendas. ¿Os estoques estão no fim¿, comemorou o ministro. De janeiro a agosto de 2009, apenas a indústria de transformação ainda possui um resultado fortemente negativo, com o fechamento de 60.559 postos. O setor extrativista também demite, no ano, 486 pessoas.

Pela primeira vez em 2009, o nível de emprego cresceu nos 27 estados. No Distrito Federal, foram mais 2.767 novas vagas. Em termos de salário, houve aumento real nos salários médios de admissão dos trabalhadores que, nacionalmente, passaram de R$ 764,75 para R$ 767,85. O maior acréscimo ocorreu em Roraima (de R$ 633,46 para R$ 672,74), e a queda mais forte, no Ceará (de R$ 620,65 para R$ 586,67).

JORNADA PODE SER REDUZIDA O governo ainda não se manifestou, mas o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, demonstrou ontem ser claramente a favor do projeto de lei que reduz para 40 horas a jornada de trabalho dos brasileiros. ¿O projeto está empacado na Câmara. Só quero lembrar aos deputados que o ano que vem é ano de eleição e quem vota é o trabalhador¿, avisou. O debate em torno do texto coloca trabalhadores e empresários em trincheiras opostas. Os trabalhadores querem a redução da jornada sem redução dos salários. Os empresários não concordam com isso. Para os trabalhadores, a redução da jornada vai significar mais empregos. Os empresários alegam o contrário e afirmam que a proposta dos trabalhadores acarretará aumento de custo para as empresas e, portanto, mais demissões. (VC)