Título: Emergentes vão injetar US$ 70 bi no FMI
Autor: Barbosa, Flávia
Fonte: O Globo, 19/06/2012, Economia, p. 22

Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul defendem ação coordenada para a recuperação do crescimento mundial

LOS CABOS, México. Os líderes do Brics - Dilma Rousseff (Brasil), Vladimir Putin (Rússia), Manmohan Singh (Índia), Hu Jintao (China) e Jacob Zuma (África do Sul) - decidiram ontem, em reunião antes do início da primeira sessão do G-20 (as 20 maiores economias do mundo), o aporte de recursos no colchão anticrise ( firewall ) do Fundo Monetário Internacional (FMI), criado na reunião de primavera da instituição, em abril. Mantega não quis antecipar o valor global e por países, mas confirmou que deverá ficar em cerca de US$ 70 bilhões - diferença entre os US$ 360 bilhões declarados pelos sócios dois meses atrás e os US$ 430 bilhões que o FMI anunciou, na ocasião, esperar alcançar.

Os líderes do Brics divulgaram nota defendendo que a declaração final do encontro apoie de forma incisiva uma ação coordenada de recuperação do ritmo de crescimento global - em recado direto à União Europeia (UE), especialmente à Alemanha. Os governantes do Brics consideram que a crise na zona do euro ameaça a estabilidade financeira e econômica global e que é necessário encontrar soluções comuns para dar fim à turbulência.

"Os líderes enfatizaram que, considerando a atual situação global e a necessidade de se resgatar a confiança dos mercados, seria importante que a cúpula do G-20 emitisse um comunicado forte visando a combater a desaceleração internacional e os efeitos da crise na zona do euro", diz a nota oficial, divulgada pela chancelaria da Índia. A nota não informa os valores que serão colocados no FMI, mas enfatiza que os emergentes tomaram essa decisão antecipando "que todas as reformas acordadas em 2010 serão integralmente implementadas de maneira expedita, incluindo uma reforma abrangente do poder de voto e do sistema de cotas" da instituição multilateral.

Líderes europeus dizem que crise é problema de todos

O uso dos recursos do FMI na crise europeia não é, no entanto, assunto pacífico. No encontro, os presidentes da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, e do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, foram sabatinados pela imprensa. Questionado pela imprensa do Canadá sobre por que motivo os americanos deveriam arriscar uma ajuda aos europeus, por intermédio dos recursos do Fundo, sem que a Europa ofereça uma solução para seus problemas, Durão Barroso destacou que "os europeus são, de longe, os maiores contribuidores do Fundo":

- O FMI é uma instituição internacional que trabalha pelo bem comum, e estabilidade financeira é bem comum. A União Europeia é a maior economia e o maior parceiro comercial do mundo. Então, quanto mais rápido estiver estabilizada, melhor para todo mundo.

Ele acrescentou que é hora de trabalhar juntos e que "francamente, não viemos (ao G-20) receber lições de democracia ou sobre como conduzir a economia":

- A crise não começou na UE, foi na América do Norte, e nosso sistema financeiro foi contaminado por, como dizer, formas pouco ortodoxas no sistema financeiro (americano).