Título: Candidatos gregos transformam eleição em referendo sobre o euro
Autor:
Fonte: O Globo, 16/06/2012, Economia, p. 26

A dois dias das eleições gregas, o líder conservador do partido Nova Democracia, Antonis Samaras, disse na sexta-feira , no encerramento de sua campanha, que o país terá de optar entre o euro ou sofrer o "pesadelo" da volta à dracma, a antiga moeda grega. A declaração dá bem o tom do clima eleitoral e revela a profunda divisão do país entre projetos de ajuste das contas públicas ou de crescimento. Na outra ponta, o jovem Alexis Tsipras, o "Che Guevara grego" do partido ultraesquerdista Syriza, classificou dechantagem a afirmação de que sua vitória significará a saída da Grécia do euro. Seja qual for o resultado, preveem autoridades e analistas, a eleição grega vai reverberar por toda a zona do euro e terá impacto na economia global.

Num discurso diante de seus eleitores, antes das eleições de no domingo, Samaras voltou a prometer que, se for eleito, renegociará os termos do acordo de resgate financeiro fechado pelo governo anterior e a chamada troika — Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e Comissão Europeia. Essas mudanças, ele esclareceu, seriam no sentido de estimular o crescimento econômico e a geração de empregos, mas ressaltou que uma ruptura com os sócios europeus implicará o fim do euro para a Grécia.

— Nós nos aproximamos de uma eleição para decidir o futuro da Grécia e de nossos filhos — disse o líder do Nova Democracia em Atenas. — A primeira decisão que o povo grego deve considerar é: euro versus dracma.

Em seu último comício, Tsipras convocou seus eleitores a não aceitar a "chantagem" colocada pelo adversário:

— Aterrorizem os terroristas com o voto de vocês — disse.

Carrefour deixa a Grécia após queda da demana

Tsipras acrescentou que a coalizão entre o Nova Democracia e o socialista Pasok dominou a política grega nos últimos 40 anos, durante os quais saquearem o país e o entregaram à chanceler alemã, Angela Merkel. Ele se referiu à defesa intransigente da líder alemã de uma solução da crise por meio de um duro ajuste fiscal, o que piora o impacto social da recessão em que a Grécia está mergulhada, sobretudo no mercado de trabalho. O índice de desemprego na Grécia é superior a 22% e atinge mais de 50% da população jovem.

As eleições de amanhã ocorrem após o pleito do dia 6 de maio, quando nenhum partido conseguiu obter uma maioria suficiente para indicar o primeiro-ministro. As últimas pesquisas de opinião, realizadas a dez dias do pleito, indicavam um empate virtual entre Nova Democracia e Syriza. Esse quadro indica que nenhum dos dois partidos conseguiria uma vitória contundente amanhã, obrigando os líderes a negociações com outras legendas.

As autoridades da zona do euro, por sua vez, indicaram que dariam ao novo governo uma certa margem de manobra sobre como cumprir as metas fiscais acertadas no pacote de resgate, mas frisaram que as metas ali estabelecidas não seriam alteradas. Os credores da Grécia dizem que deixarão de financiar o país se os eleitores rechaçarem o pacote. Tsipras não crê nesses alertas e afirma que as autoridades da zona do euro farão o possível para manter o país no bloco, pois sua saída teria impactos imprevisíveis.

Em meio à crise, a rede de supermercados Carrefour, maior varejista da Europa, anunciou ontem que está saindo da Grécia, diante da queda vertiginosa das vendas. A empresa vendeu sua participação numa joint venture grega para o parceiro local Marinopoulos. Especula-se que também o Crédit Agricole vai encerrar suas atividades na Grécia.