Título: Deputado federal admite que negociou emenda
Autor: Pereira, Paulo Celso
Fonte: O Globo, 19/06/2012, O País, p. 9

Marcos Medrado diz que destinou verba para base eleitoral de João Bacelar, em troca de apoio do prefeito à sua campanha

BRASÍLIA . O deputado federal Marcos Medrado (PDT-BA) confirmou ontem que negociou com o colega João Carlos Bacelar (PR-BA) a destinação de uma emenda individual ao Orçamento da União para um município da base eleitoral de Bacelar. Segundo Medrado, a emenda, de cerca de R$ 2 milhões, teria sido entregue ao colega em troca do apoio de um prefeito do interior à sua campanha eleitoral:

- Posso estar errado, mas o que ocorreu foi que, na campanha passada, fui votado no município de Teofilândia. O prefeito não queria mais votar nele (Bacelar) e votou comigo. Mas aí ele me pediu: "Olha, combine com o deputado Bacelar e destine para ele o mesmo valor que ele deu pra cá, de aproximadamente R$ 2 milhões" - explicou o deputado.

Medrado foi o deputado mais bem votado

Marcos Medrado foi, de fato, o deputado mais bem votado na cidade, com 3.561 votos. Já Bacelar teve apenas 20 votos. A prova inequívoca do poder financeiro da negociação é a comparação com o pleito anterior, de 2006. Nele, Bacelar tinha sido o terceiro deputado mais votado da cidade, com 493 votos, e Marcos Medrado conseguira três votos.

Teofilândia era então um reduto de Fernando de Fabinho (DEM-BA), ex-deputado que figura na tabela usada por Bacelar para acompanhar emendas parlamentares destinadas à Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Paranaíba (Codevasf). Como não concorreu na eleição de 2010, Fabinho deixou na cidade o espólio de seus 4.046 votos obtidos em 2006. Após o acerto com Bacelar, Medrado herdou esse capital. Medrado nega, no entanto, que tenha havido negociação financeira envolvendo as emendas.

- Não faço isso de vender emenda e nunca fiz. Eu compensei ele (sic) em outra cidade com uma emenda do mesmo valor da que ele tinha dado para lá. Fiz isso porque o prefeito tinha compromisso com o Bacelar e aí compensei em outros municípios - afirmou Medrado.

No último domingo, O GLOBO revelou a existência de um esquema de venda de emendas na Câmara dos Deputados. Segundo a ex-mulher de Bacelar, Isabela Suarez, filha de um dos maiores empreiteiros da Bahia, o deputado comprava emendas de vários parlamentares que o procuravam em busca de recursos para campanha.

Bacelar tinha, inclusive, uma tabela pela qual acompanhava os recursos enviados por dois deputados - Geraldo Simões (PT-BA) e Marcos Medrado - e um ex-deputado federal, Fernando de Fabinho. Isabela contou à irmã de Bacelar, Lílian Bacelar, que Geraldo Simões seria um dos deputados federais que venderam emendas para o ex-marido.

De acordo com a tabela, Medrado havia enviado duas emendas para cidades onde Bacelar foi o deputado mais votado: R$ 2 milhões para Canarana e outros R$ 2,5 milhões para Ibipeba. Procurada, a Codevasf, que recebeu os recursos, informou que Medrado alterou, no fim do ano passado, o destino do dinheiro dessas cidades para o município de Paramirim.

- Quando surgiram as denúncias com ele no ano passado, disse para ele que ia tirar as minhas emendas de lá e colocar nas minhas bases - explicou Medrado, referindo-se às revelações feitas ano passado pela revista "Veja", de que Bacelar destinava emendas parlamentares para prefeituras, que contratavam posteriormente a empreiteira de sua família, a Embratec, para realizar as obras.

O balcão de negócios envolvendo as emendas parlamentares poderá começar a ser investigado ainda esta semana na Câmara dos Deputados. O líder do PSOL, Chico Alencar (RJ), entregará hoje ao presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), um memorando de cinco páginas pedindo que ele solicite à Corregedoria a apuração do esquema. O deputado pede também que a Câmara apure as acusações de direcionamento de emendas parlamentares para a construtora da família de Bacelar.

Deputado quer apurar quebra de decoro

"As denúncias são gravíssimas e impõem à Corregedoria da Casa a devida apuração com a adoção das medidas cabíveis, no curto prazo que a gravidade do caso requer, a fim de coibir tais práticas, preservar a imagem da Câmara dos Deputados e punir possível quebra da ética e do decoro parlamentar", diz o memorando.