Título: Para tentar acordar o gigante
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 21/06/2012, Economia, p. 23

BC americano anuncia que usará mais US$ 267 bi na compra de títulos e prevê crescimento menor para o país

RIO, WASHINGTON e NOVA YORK

O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) prorrogou ontem, até o fim do ano, seu programa de estímulo financeiro, ao mesmo tempo em que divulgou previsões mais pessimistas para a economia dos Estados Unidos, com crescimento baixo e desemprego alto. O programa, conhecido como Operação Twist, acabaria no fim deste mês. O Fed usará mais US$ 267 bilhões para vender títulos de curto prazo e comprar papéis de prazo mais longo, a fim de manter os custos de financiamento baixos. E avisou que fará mais se for preciso. Se o cenário esperado pela instituição se confirmar, será mesmo necessário: a projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) deste ano passou da faixa de 2,4% a 2,9% para entre 1,9% e 2,4%. As estimativas para 2013 e 2014 também foram reduzidas.

Em seu comunicado, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) afirma esperar que "o crescimento econômico permaneça moderado nos próximos trimestres, para então iniciar uma recuperação gradual". O Fed projeta ainda que o desemprego continue elevado, acima de 8%, até o fim de 2012.

Somando-se aos US$ 400 bilhões anunciados em setembro de 2011, a Operação Twist somará US$ 667 bilhões. Os mercados, porém, esperavam um programa mais ousado, com injeção de dinheiro. Em Wall Street, o índice Dow Jones recuou 0,10%, enquanto a Nasdaq, depois de passar o dia no vermelho, fechou em ligeira alta de 0,02%. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) interrompeu uma sequência de três pregões consecutivos de valorização, e seu principal índice, o Ibovespa, teve queda de 0,05%, aos 57.166 pontos. O dólar comercial avançou 0,24%, cotado a R$ 2,033.

"Mercado não

teve o que queria"

Segundo Paulo Esteves, analista-chefe da Gradual Investimentos, o mercado chegou a reagir positivamente ao comentário do presidente do Fed, Ben Bernanke, de que a autoridade monetária americana estaria "pronta para agir". O Ibovespa chegou a subir 0,73% após o anúncio.

- Mas foi um movimento curto. Até porque ainda pesa nos mercados a expectativa que a Espanha peça ajuda financeira nos próximos dias, o que gera aversão ao risco - explica Esteves.

Quincy Krosby, estrategista de mercado da consultoria Prudential Financial, resumiu, para o site CNNMoney, o sentimento do mercado com o anúncio do Fed: "Bernanke não deu ao mercado o que este queria, mas o que esperava".

Entre as maiores perdas da Bovespa, as ações ordinárias (ON, com voto) da OGX Petróleo tombaram 4,11%, para R$ 9,78. Os papéis foram afetados pela queda expressiva dos preços internacionais do petróleo. O barril do Brent recuou 3,2%, a US$ 92,69. Em Nova York, a queda foi de 2,7%, para US$ 81,80. Entre os ganhos da Bolsa, destacaram-se os papéis da Petrobras. As ações preferenciais (PN, sem voto) subiram 1,52%, a R$ 19,95, ainda pela expectativa de reajuste do preço da gasolina.

Antes do anúncio do Fed, no embalo do acordo para uma coalizão governamental na Grécia, os mercados europeus fecharam em alta, com destaque para Londres (0,64%), Paris (0,28%), Frankfurt (0,45%), Madri (1,53%) e Milão (2,13%). A Bolsa de Atenas avançou 0,49%.

Ao falar sobre a decisão do Fed, Bernanke afirmou que podem ser tomadas "medidas adicionais", caso necessário. E ressaltou que a autoridade monetária acompanha com atenção a crise europeia:

- Estamos monitorando as exposições dos bancos à Europa. Esperamos que as autoridades europeias tomem as medidas adicionais necessárias para estabilizar a situação, mas estamos preparados, no caso de as coisas piorarem, para proteger a economia e o sistema financeiro americanos.

O Fed também manteve a taxa básica de juros da economia em sua mínima histórica, entre zero e 0,25% ao ano - e avisou que esta ficará "excepcionalmente baixa" pelo menos até o fim de 2014. Os bancos centrais de Japão e Reino Unido já se comprometeram a afrouxar sua política monetária para combater a crise. No último dia 7, a China reduziu suas taxas de juros, e o Banco Central Europeu pode anunciar algo em sua próxima reunião, em 5 de julho.

No Brasil, a retirada do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) dos empréstimos externos com prazo entre dois e cinco anos ainda não teve o impacto esperado na atração de recursos no mercado financeiro. Na segunda semana de junho, saíram do país US$ 327 milhões líquidos (já descontada a entrada de recursos externos), informou ontem o Banco Central. O aumento das importações pesou no resultado do fluxo cambial, fazendo com que o comércio exterior ficasse no vermelho em US$ 435 milhões.

* Com agências internacionais