Título: Ameaças no processo que investiga Cachoeira atingem Ministério Público
Autor: Souza, André de; Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 21/06/2012, O País, p. 4

Depois de juiz, procuradora recebeu e-mail anônimo; vazamento está sendo apurado

TENTÁCULOS DA CONTRAVENÇÃO

BRASÍLIA. Depois de ter um juiz ameaçado e outro que se declarou impedido de participar, agora é o Ministério Público Federal que virou alvo de pressões no processo que investiga os negócios do bicheiro Carlinhos Cachoeira. A procuradora Léa Batista, do MPF em Goiás, disse ter recebido e-mail anônimo com ameaças veladas.

Léa pediu ajuda da Procuradoria Geral da República, que tenta identificar o remetente do e-mail. Ontem, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, considerou intolerável a ameaça, e cogitou pedir escolta à Polícia Federal. Gurgel ressaltou a necessidade de primeiro comprovar se houve mesmo a ameaça antes de tomar as providências.

- É preciso verificar. Muitas vezes há especulações que não têm a devida consistência. Mas é preciso levar muito a sério isso, pela gravidade das condutas que a procuradora, junto com outro colega de Goiás, apura. O Ministério Público não pode correr o risco de ser surpreendido em razão de alguma ameaça. Primeiro é preciso verificar a concretude (da ameaça). Sendo comprovada, é algo intolerável a tentativa de tolher o Ministério Público - afirmou Gurgel.

Também ontem, o juiz Leão Aparecido Alves - titular da 11 Vara Federal de Goiás e que assumiria o comando do processo do caso do contraventor Carlinhos Cachoeira - pediu ao Tribunal Regional Federal da 1 Região (TRF1) que seja apurada a denúncia de que ele estaria envolvido em vazamento de informações da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal (PF). Ele se reuniu ontem com a corregedora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a ministra Eliana Calmon, e outros magistrados envolvidos com o processo.

Após o encontro, a corregedora minimizou o possível vazamento, dizendo que a Monte Carlo foi um sucesso. Leão Alves é amigo da família de José Olímpio de Queiroga Neto, um dos presos durante a operação.

- Houve um requerimento do juiz Leão para que ficasse esclarecido se ele teve alguma participação em vazamentos surgidos ao longo da investigação. Isso existe na corregedoria regional - afirmou a ministra, que minimizou o impacto do vazamento:

- Se ele (Cachoeira) sabia, ele viu no que deu. Isso não tem nenhuma importância. Se vazou, vazou mas não surtiu efeito.

Anteontem, o "Jornal da Globo" divulgou telefonema do bicheiro Carlinhos Cachoeira, gravado pela Polícia Federal com autorização da Justiça, em que ele fala com Lenine Araújo, um dos integrantes da organização criminosa, sobre uma possível operação da PF. Na gravação, o nome do juiz é citado. "Ficou para semana que vem. Dia 14 o Leão assume a vara e ela ficou de avisar se tiver prisão ou não", afirmou Cachoeira, em diálogo de 7 de fevereiro de 2012, semanas antes de ser preso pela PF.

Também participou da reunião ontem o juiz Paulo Augusto Moreira Lima, que pediu afastamento do processo da Monte Carlo, por estar em "situação de extrema exposição junto à criminalidade de Goiás". Eliana Calmon confirmou que houve ameaças ao magistrado, mas disse que a saída se deveu ao cansaço:

- O nosso entendimento é que a magistratura não pode estar fragilizada, com medo do crime organizado. Naturalmente que o juiz deu as razões. Daí que eu entendo que sai não por fragilidade, não por covardia, não porque ele esteja com medo. Ele sai porque quer descansar.