Título: Bacelar tentou vantagem em licitação dos Correios
Autor: Pereira , Paulo Celso
Fonte: O Globo, 22/06/2012, O País, p. 11

BRASÍLIA. Além de ter negociado emendas ao Orçamento da União, o deputado federal João Carlos Bacelar (PR-BA) controlava os Correios no seu estado e, segundo relatou sua ex-mulher Isabela Suarez em conversa gravada, teria tentado conseguir vantagens em uma licitação de agências da estatal.

Na gravação, Isabela afirma que Bacelar desejava comprar agências dos Correios e, para isso, contaria com a ajuda do então diretor da empresa no estado, Jackson Jaques, que havia sido indicado por ele para o cargo. A tarefa de seu nomeado seria informar as agências mais lucrativas para Bacelar investir:

- O superintendente do Correio era indicação do João. Na época, o Correio de fato licitou algumas agências para serem compradas. Como a superintendência era indicação dele, o cara chegaria e facilitaria, apresentaria "essas são as que rendem mais, então entre na licitação nessas e nessas aqui" - afirmou Isabela.

A ex-mulher de Bacelar, na conversa, considera a iniciativa do deputado normal, a partir do momento em que a indicação política do diretor dos Correios foi entregue ao partido do deputado:

- Não tinha nada errado. Sim, é um favorecimento para indicar quais agências que vendem mais. Isso aí tem como você pesquisar sem precisar de favorecimento. E é normal, cada segmento ser controlado por um partido, não tem nada de mais.

Na conversa com Lílian, uma irmã de Bacelar, Isabela Suarez dá a entender, no entanto, que o parlamentar não teria concluído a operação de compra das agências. O motivo seria a perda do cargo na estatal para um grupo comandado pelo deputado federal Zezéu Ribeiro (PT-BA), apontado como patrono da indicação do atual diretor dos Correios na Bahia, Claudio Moras Garcia. Bacelar havia garantido a indicação para o cargo em 2009, como compensação por ter sido preterido na disputa pela indicação do diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) na Bahia.

Troca de diretor dos Correios teve ameaças

A troca de Jackson por Garcia, em junho do ano passado, provocou uma grave troca de ameaças. Na época, foi veiculado na Bahia que Bacelar procurou o presidente nacional dos Correios, Wagner Pinheiro, e ameaçou retaliar pedindo uma investigação na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara sobre a atuação dele quando presidia a Petros, fundo de pensão da Petrobras. Garcia, no entanto, foi mantido no cargo.

Segundo os Correios, entre 2009 e este ano foram licitadas 83 agências na Bahia, metade delas em Salvador. A empresa não confirmou, no entanto, se o então diretor era indicado por Bacelar e evitou comentar as declarações de Isabela: "Não temos conhecimento de indicações políticas e a empresa não se manifesta a respeito de suposições e declarações sem provas", disse a assessoria. Procurado, Bacelar não quis comentar as acusações da ex-mulher.