Título: Conflito em fazenda deixa 12 feridos no Pará
Autor: Voitch , Guilherme
Fonte: O Globo, 22/06/2012, O País, p. 12

SÃO PAULO . Um confronto entre seguranças de uma fazenda do grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, e integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) deixou 12 pessoas feridas na manhã de ontem, em Marabá, Sudeste do Pará. Segundo o superintendente da Polícia Civil na região, Alberto Teixeira, dez dos feridos foram liberados após receberem atendimento médico - entre eles uma criança que levou um tiro de raspão na cabeça - e apenas duas pessoas permaneciam internadas até o início da noite de ontem, mas nenhuma delas em estado grave.

O conflito ocorreu na Fazenda Cedro, da Agropecuária Santa Bárbara, empresa que tem o Opportunity, de Dantas, como principal acionista. O banqueiro foi investigado na Operação Satiagraha, suspeito de lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, evasão de divisas e outros crimes, mas o Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou as provas.

De acordo com Teixeira, seis seguranças da fazenda foram detidos e, até o fechamento desta edição, prestavam depoimento.

-As armas foram apreendidas. Estamos ouvindo todas as partes e temos uma equipe na fazenda para garantir a ordem. Dependendo, serão indiciados - disse o superintendente.

As versões sobre o confronto são conflitantes. O MST acusa os seguranças da fazenda de terem atacado os militantes, que faziam, segundo o grupo, um manifestação pacífica, com mais de mil famílias, em frente à sede da propriedade, contra o uso abusivo de agrotóxicos.

- Fomos recebidos com muitos tiros por parte da escolta armada - declarou o dirigente do MST Charles Trocatte.

Depois do ataque, os militantes fecharam a BR-155, km 55, ao lado da fazenda. Durante a tarde, a rodovia foi liberada.

Já a Agropecuária Santa Bárbara, em nota, dá outra versão. Segundo a empresa, cerca de 300 integrantes do MST invadiram a propriedade.

"Com muita violência, o grupo, fortemente armado e enfurecido, destruiu parte da propriedade e causou pânico nos funcionários e prestadores de serviços presentes. Os invasores chegaram atirando e destruindo a propriedade, aterrorizando os funcionários, que fugiram desesperados. Eram 300 invasores enfurecidos e apenas seis seguranças para proteger as vidas dos funcionários e de si próprios e à propriedade", diz a empresa, por meio de nota. Ainda de acordo com a Agropecuária, os militantes também estavam armados e a "polícia vai esclarecer" de onde vieram os disparos.

A tensão entre MST e a Agropecuária Santa Bárbara vem desde 2008 quando os sem-terra fizeram a primeira invasão de uma fazenda do grupo, a Maria Bonita, localizada em Eldorado dos Carajás, cidade vizinha a Marabá. Desde então, pelo menos seis fazendas foram invadidas.

A empresa afirma que o MST age com táticas de guerrilha, matando o gado, danificando cercas, ameaçando e constrangendo funcionários. Os sem-terra dizem que a empresa explora a mão de obra escrava, usa grandes quantidades de agrotóxico e destrói o meio ambiente ao derrubar a mata nativa para plantar pasto para o gado.

A empresa é ré em ações movidas pelo Ministério Público Federal por irregularidades ambientais. Ainda não há decisão da Justiça, mas, em acordo com o MPF, frigoríficos do estado deixaram de comprar carne das fazendas da Santa Bárbara. O Incra também questiona a legitimidade da posse de parte das fazendas.