Título: Uruguai quer debater maconha na região
Autor: Sorano , Vitor
Fonte: O Globo, 22/06/2012, O Mundo, p. 29

RIO. O Uruguai quer que a sua estratégia de criar um mercado interno legal para a maconha para combater a violência e as drogas pesadas seja discutida no âmbito regional, disse ontem ao GLOBO o chefe da Secretaria Nacional de Drogas do país, Julio Calzada. A proposta foi criticada ontem indiretamente pelo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, como uma decisão "unilateral" para um problema "transnacional".

- Esperamos que progressivamente essa iniciativa seja pelo menos posta em debate no âmbito da Unasul (União das Nações Sul-Americanas, que reúne 12 países) - disse Calzada.

As punições pelo consumo de maconha já foram abrandadas em diversos países latino-americanos, como Brasil, Paraguai, México e Colômbia. No início do mês, porém, a então secretária-geral da Unasul, Maria Emma Mejía, disse-se cética em relação à ideia de que a descriminalização elimine o tráfico e outros crimes associados a ele. No âmbito continental, a abordagem encontra resistência dos Estados Unidos, que financiam programas de combate às drogas na região.

Anteontem, o governo do Uruguai, país onde o uso é descriminalizado, propôs legalizar também o comércio. Pela ideia inicial, ele seria gerido pelo Estado da produção, feita em terras públicas, à distribuição. A venda seria em farmácias ou em lojas exclusivas - mas, à diferença dos coffee shops da Holanda, sem possibilidade de consumo no local. Haverá registro de todos os consumidores - em princípio, só moradores do país. O modelo é inédito no mundo. A proposta deve ir ao Parlamento nas "próximas semanas", disse Calzada.

Sem citar o Uruguai, Santos disse que as decisões unilaterais podem "ampliar o problema", argumentando ser o seu país o que mais sofreu no mundo com o narcotráfico.

- O problema do narcotráfico é um problema transnacional. Se um país toma uma decisão unilateral pode criar distorções e ampliar o problema - disse o presidente, comentando que há um grupo, criado após a Cúpula das Américas de abril, avaliando todos os modelos, incluindo a legalização.

Calzada diz que a estratégia uruguaia visa " a garantir ao conjunto dos países (da região) que a produção será estritamente para consumo interno". O registro de usuários, que podem comprar no máximo 30g por mês, é uma das medidas para impedir o desvio para fora do Uruguai e evitar o narco turismo.