Título: 'Nem ódio, nem vingança, mas tampouco perdão
Autor: Lima , Maria
Fonte: O Globo, 23/06/2012, O País, p. 13

Com a voz embargada e contendo a emoção, a presidente Dilma Rousseff disse ontem que nunca quis saber a identidade de seus torturadores e que não sente ódio deles, mas que também não os perdoa. Ao comentar a publicação de um depoimento seu sobre as torturas sofridas ao Conselho Estadual de Direitos Humanos de Minas Gerais, em 2001, afirmou que muitos dos que a torturaram não tinham nomes verdadeiros, que há elucubrações sobre suas identidades, mas disse que jamais procurou saber, porque a questão não é o torturador, e, sim, a tortura.

Os jornais "Correio Braziliense" e "Estado de Minas" publicaram reportagens sobre seu depoimento, em que relata as torturas que sofreu quando foi presa, aos 22 anos, pelo regime militar. Ontem, em entrevista coletiva no encerramento da Rio+20, Dilma disse que o torturador é apenas um agente. Por isso, destacou, criou a Comissão da Verdade, "para virar a página dessa História do país, e não deixar que se repita nunca mais".

- Com o passar dos anos, uma das melhores coisas que me aconteceu foi não me deixar fixar nas pessoas e nem ter por elas qualquer sentimento, nem ódio, nem vingança, mas também tampouco perdão. Não há sentimento que se justifique contra esse tipo de ato. Há a frieza da razão - disse Dilma.

- Querer vingança ou sentir mágoa ou ódio é ficar dependente de quem queremos vingar, magoar ou odiar. Isso não é um bom sentimento para ninguém - completou Dilma, se contendo para não chorar.

Problema é o contexto em que a tortura se estabelece

A presidente disse que alguns de seus torturadores usavam nomes falsos, e que há apenas elucubrações sobre suas identidades.

- Agora, a questão não é o torturador. O torturador é um agente. Mesmo ele tendo a sua responsabilidade reconhecida, depois do que aconteceu no julgamento dos crimes de guerra de Nuremberg, que aprovou uma avaliação de que mesmo sendo mandado quem faz é responsável, eu não acho que seja o torturador o problema. O problema é em que condições a tortura é estabelecida e operada. Isso todos nós sabemos. E todos nós temos o compromisso de jamais deixar que volte a acontecer - afirmou Dilma.

Para a presidente, a questão agora é buscar a verdade, com os trabalhos já instalados da Comissão da Verdade, para virar a página dessa parte da História do Brasil:

- A verdade não se esquece. Mas não se esquece do ponto de vista histórico, não do ponto de vista individual.