Título: BC diz que crédito externo cairá de US$ 47 bi para US$ 100 milhões
Autor: Pierry , Flávia
Fonte: O Globo, 23/06/2012, Economia, p. 24

BRASÍLIA. O agravamento da crise econômica global fez o Banco Central (BC) revisar suas projeções para as contas externas em 2012. No novo quadro traçado pela autarquia, a partir do resultado das contas de maio, o comércio exterior perderá ainda mais força, as filiais de multinacionais vão remeter menos lucro para o exterior e o turista brasileiro reduzirá seus gastos lá fora. O dado mais preocupante refere-se ao financiamento externo. O BC prevê que Brasil terminará 2012 com apenas US$ 100 milhões em empréstimos de médio e longo prazos. No ano passado, o país registrou uma entrada líquida de US$ 47 bilhões por meio dessas linhas de crédito.

Em maio, com o dólar alto, as despesas de turistas brasileiros no exterior ficarão abaixo do previsto, embora tenham registrado alta de 9,7% em relação ao mesmo mês de 2011. No mês passado, os brasileiros deixaram US$ 1,8 bilhão lá fora, praticamente o mesmo valor do mês anterior. Para o ano, a previsão do BC é um gasto líquido de US$ 13 bilhões, 19,2% abaixo dos US$ 15,5 bilhões estimados antes do agravamento da crise, já descontadas todas as despesas de estrangeiros no Brasil. O valor também é menor que os US$ 14,7 bilhões gastos em 2011.

Previsão de remessas de lucro caiu US$ 10 bilhões

Em relação ao financiamento externo, nem mesmo na crise de 2009 o desempenho foi tão ruim. No auge da crise há três anos, o país ainda recebeu US$ 6,7 bilhões. Naquela época, a estratégia da equipe econômica foi usar as reservas internacionais para criar linhas de empréstimos às empresas que não conseguiam mais financiamentos no exterior.

- O governo já pode retirar todas essas barreiras que colocou, porque o mundo está parado lá fora - disse o ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas, ao se referir à taxação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre a entrada de capital.

Pela nova projeção do BC, o saldo da balança comercial em 2012 passou de US$ 21 bilhões para US$ 18 bilhões por causa das exportações mais fracas.

Outro dado que evidencia o pessimismo do BC é a expectativa de remessas de lucros e dividendos ao exterior. A previsão caiu de US$ 38 bilhões para US$ 28 bilhões. A autarquia também reviu para baixo a estimativa de déficit nas contas externas, de US$ 68 bilhões para US$ 56 bilhões. A revisão reflete o desaquecimento da economia, pois devem cair despesas que pressionam as contas, como aluguel de equipamentos no exterior, importações de insumos, pagamentos de frete e outros gastos comuns a uma economia em expansão. No ano, esse déficit chegou a US$ 21 bilhões, ajudado pelo desempenho negativo de US$ 3,5 bilhões no mês passado.

Mas, a autoridade monetária não mudou a projeção de US$ 50 bilhões em Investimento Estrangeiro Direto (IED), capital considerado de melhor qualidade.

- A nossa estimativa para investimento estrangeiro direto não foi alterada, porque o que temos observado nos fluxos é consistente com essa estimativa - disse o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel.

Investimento de longo prazo, porém, pode crescer

Ele destacou que o IED reflete decisões de longo prazo das empresas e poderá até aumentar, mesmo com o quadro atual, já que as perspectivas para o Brasil são boas. No entanto, a autarquia decidiu ser mais conservadora e permanecer com esse número por causa da crise. Só em maio, o Brasil atraiu US$ 3,7 bilhões. No ano, já soma US$ 23,3 bilhões em IED. E a previsão para o mês que vem é que entrem mais US$ 4,8 bilhões.

- Com o dólar mais valorizado, fica mais caro remeter lucros e mais barato investir no país. E esse dinheiro tem coberto o déficit das contas externas. Em relação a isso, estamos muito bem - analisou Freitas.