Título: Dilma já fala em expulsão do Mercosul
Autor: Oliveira , Eliane
Fonte: O Globo, 23/06/2012, Especial, p. 32

ASSUNÇÃO e RIO . Momentos antes da confirmação do impeachment de Fernando Lugo, a presidente Dilma Rousseff ainda tinha esperança de uma saída negociada pela delegação da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), chefiada pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, embora já desse o resultado como favas contadas, segundo seus interlocutores. Coube ao assessor para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, dar a notícia, quando Dilma se preparava para fazer o discurso de encerramento da Rio+20.

- Está aqui ó, acabou! - disse Marco Aurélio Garcia.

- Já esperava. Agora vamos nos reunir com os países da Unasul para ver o que podemos fazer. Não tomaremos nenhuma medida antes de conversar com o Patriota - acrescentou Dilma.

Evitando o tom de ameaça, Dilma já citava possibilidades de sanção como a expulsão do Paraguai de órgãos multilaterais como a Unasul, presidida por Lugo, e também do Mercosul. O governo brasileiro teme um confronto ou uma guerra civil com a aprovação do impeachment a nove meses do fim do mandato de Lugo. Dilma afirmou que o protocolo de criação da Unasul, assinado pelo Paraguai e pelos outros 11 países da América do Sul, prevê o desligamento do signatário deste organismo se for constatada ação de ruptura ou ameaça de ruptura democrática. O mesmo se aplica ao Mercosul.

Dilma evitou falar especificamente do caso ou dizer se a reunião do Mercosul marcada para os dias 28 e 29, em Mendoza, na Argentina, já poderia analisar a expulsão do Paraguai. Mas deixou claro que alguma sanção pode ser tomada. Ela evitou responder se o rito sumário do impeachment de Lugo poderia ser interpretado como golpe de Estado, mas disse que, para o Brasil, que já passou por um processo doloroso de golpe e retomada democrática, o valor da democracia é muito importante:

- Os 12 países signatários aqui reunidos avaliamos que a situação no Paraguai era muito complicada. Achamos que devíamos cuidar para que houvesse respeito aos princípios do direito de defesa e manutenção da ordem democrática. Por isso mandamos os chanceleres.

O ministro de Relações Exteriores da Venezuela, Nicolás Maduro, destacou que a falta de vontade política dos setores contrários a Lugo configura desrespeito não só às normas da organização, como ao Mercosul.

- Infelizmente, as respostas que tivemos foram silêncio e indiferença - criticou.

O presidente do Equador, Rafael Correa, disse que não reconhecerá o novo governo, e Cristina Kirchner, da Argentina, afirmou que se coordenará com Brasil e Uruguai para reagir ao episódio, tachado por ela de golpe.

- Já chega de intervenções na nossa América! - disse Correa.

Lugo recebeu telefonemas de apoio de Dilma, do venezuelano Hugo Chávez, do boliviano Evo Morales, de Cristina e Correa.

Ao ser informado de que as tentativas de ajuda da Unasul foram rejeitadas pelo Senado, o ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, se mostrou apreensivo.

- Estão optando pela dureza. Podem estar caminhando para uma guerra civil - disse.

Segundo um interlocutor da presidente Dilma, o impeachment de Lugo pode representar a ruptura de um ciclo democrático na América Latina. O governo brasileiro acredita que somente o clamor popular poderá salvar o agora ex-presidente. Havendo a constatação de que houve ruptura dos princípios democráticos no Paraguai, um dos caminhos é a evocação da cláusula democrática do Protocolo de Ushuaia, cujo efeito é o isolamento do país na região.