Título: Dilma: crise europeia tem Inexorável da Silveira
Autor: Barbosa, Flávia
Fonte: O Globo, 20/06/2012, Economia, p. 23

Brasil se compromete a fazer aporte de US$ 10 bi para caixa do FMI, que chegará a US$ 456 bi com reforço do Brics

LOS CABOS, México . A presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que os líderes do G-20 (maiores economias do mundo), que realizaram reunião de cúpula no México, reconhecem que a ausência de um Estado único, capaz de tomar as rédeas da situação, dificulta imensamente a tarefa dos europeus de implementar ações coordenadas e imediatas que resgatem o continente da grave crise que enfrenta. Mas ela ressaltou que a realidade se impõe: ou as nações agem, ou serão forçadas a fazê-lo devido à existência do que ela batizou de "Inexorável da Silveira".

Na reunião do G-20, a Alemanha cedeu à importância das políticas de estímulo ao crescimento dentro do plano de recuperação da região. Porém, autoridades europeias afirmaram que muitas medidas necessárias ao resgate - como reforço da união fiscal, bancária e política - dependem de mudanças em tratados e coordenação política, de cada país internamente e entre os 17, o que levará tempo.

Isso frustra a expectativa de que um programa detalhado e de curto prazo saia do encontro de líderes europeus marcado para os dias 28 e 29, elevando a tensão nos mercados e entre os demais países, que enfrentam desaceleração econômica em meio ao recrudescimento da crise.

Dilma reconheceu o desafio, porém usou uma alegoria para explicar que a urgência e a realidade acabarão se impondo, pois há forças políticas, dos mercados financeiros e da sociedade civil agindo enquanto os líderes europeus debatem:

- O Nelson Rodrigues tinha um personagem chamado Sobrenatural de Almeida. Existe um personagem que é internacional chamado Inexorável da Silveira. As coisas não são do jeito que escolhemos. Nenhum de nós. Se vão esperar ou não (para implementar medidas), é uma questão de combinação de decisões políticas com reações do mercado. (Pressão popular) também. E aí é um movimento inexorável, é o movimento real.

A presidente, porém, salientou que o sentimento geral é de cooperação e solidariedade com a Europa, não de tutela.

- Não é papel do G-20 achar a fórmula mágica para os problemas da crise europeia. Existe uma soberania. Acho que nenhum de nós pode assumir uma atitude de ficar dando lições, deitando regras, para os países da zona do euro. A experiência deles tem que ser levada por eles.

Ainda assim, Dilma disse que o G-20 foi claro no que considera o caminho geral a ser seguido.

- Todos os países expressaram o consenso de que não adianta só implementar políticas de austeridade fiscal e não ter associadas políticas de crescimento, através de estímulos fiscais ao investimento. O que nós esperamos é que sejam tomadas medidas no tempo certo.

Uma das formas de solidariedade expressada pela comunidade internacional, disse Dilma, foi a ratificação de aporte de recursos no chamado firewall (proteção) do Fundo Monetário Internacional durante a cúpula. O Brics - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul- anunciou que fará um aporte adicional de US$ 75 bilhões. O colchão anticrise do FMI, desta forma, chega a US$ 456 bilhões. Brasil, Índia e Rússia se comprometeram a destinar US$ 10 bilhões cada. Coube à China US$ 43 bilhões e à África do Sul, US$ 2 bilhões.

- Há uma solidariedade grande com a Europa, que se manifesta na quantidade de países que definiram um aporte ao FMI. Eu queria destacar a África do Sul: um país africano dando uma contribuição a um firewall europeu.

O valor final do colchão anticrise do FMI ficou US$ 26 bilhões acima do que a direção da instituição esperava.

A presidente afirmou ainda que há uma evolução na postura europeia quanto à importância do estímulo ao investimento e que essa mudança foi percebida por ela na reunião bilateral que teve com a chanceler Angela Merkel, ontem pela manhã. Dilma também se reuniu com o presidente de governo da Espanha, Mariano Rajoy. Segundo ela, conversaram sobre a crise e a presença espanhola no Brasil, reafirmando o interesse de que esses investimentos permaneçam.