Título: Mais fôlego para Espanha e Itália
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Fonte: O Globo, 20/06/2012, Economia, p. 21

Plano da UE prevê usar fundos de resgate de 750 bi para comprar títulos dos países nos mercados

Os fundos europeus de estabilidade serão usados para comprar títulos de Espanha e Itália, cujas taxas de rendimento vêm registrando patamares recordes, afirmou ontem o jornal britânico "Daily Telegraph", citando como fontes autoridades da União Europeia (UE) presentes na reunião do G-20, em Los Cabos, no México. Isso representaria um poder de fogo de 750 bilhões, ao se somar os recursos do Mecanismo de Estabilidade Financeira (MEE, que entra em vigor em julho), de 500 bilhões, e do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef), que ainda teria em caixa 250 bilhões. O objetivo seria mandar uma mensagem de confiança ao mercado e reduzir o rendimento pago pelos títulos desses países, que, no atual patamar - o da Espanha, por exemplo, está em torno de 7% -, torna o financiamento dos governos insustentável.

O jornal espanhol "El País" afirmou, citando fontes, que o rascunho do plano teria sido apresentado ao presidente americano, Barack Obama, que se encontrou ontem com os líderes de Alemanha, Espanha, França, Itália e Reino Unido. O texto incluiria maior união fiscal do bloco e medidas para estimular o crescimento.

O também britânico "Guardian" afirmou que a Alemanha, que sempre se manifestou contra o Feef emprestar diretamente a países endividados, aprovaria o uso desses recursos. Uma porta-voz da chanceler Angela Merkel, no entanto, disse ao jornal que "nada foi decidido ainda".

A proposta, ainda segundo o "Guardian", foi discutida em reuniões paralelas à do G-20, grupo que reúne as principais economias mundias. Autoridades europeias no G-20 disseram que os líderes da zona do euro podem fazer um anúncio oficial nos próximos dias, mas ressaltaram que os detalhes ainda não foram fechados. Segundo o "El País", porém, o anúncio seria feito na próxima reunião de cúpula da UE, nos dias 28 e 29 deste mês.

Títulos espanhóis voltam a subir

Até o momento, os recursos do fundo de resgate foram usados no socorro a Grécia, Portugal e Irlanda, em programas que impuseram monitoramento externo e rígidas medidas de austeridade. Pelo novo plano, os recursos não seriam entregues diretamente aos governos, e sim seriam usados na compra de títulos da dívida nos mercados financeiros. No ano passado, o Banco Central Europeu (BCE) comprou 210 bilhões em bônus, principalmente da Grécia. As operações, no entanto, foram suspensas - segundo o "Guardian", por oposição da Alemanha.

- Veremos o que a zona do euro anunciará nas próximas semanas, mas sem dúvida eles entendem que medidas isoladas em países isolados, como a recapitalização dos bancos espanhóis e um governo grego a favor de permanecer no euro, não bastam - disse o ministro de Finanças britânico, George Osborne.

No último dia 10, a UE concordou em ceder 100 bilhões para a Espanha sanear seus bancos. Apesar disso, o custo para o país se financiar nos mercados continuou subindo. Os títulos de dez anos chegaram a registrar o recorde de 7,29% ao ano na segunda-feira. Ontem, em um leilão de papéis de 18 meses, Madri teve de pagar uma taxa de 5,10% aos investidores. Há um mês, em operação semelhante, foram 3,30%.

Grécia pode ter

novo governo hoje

Nem a vitória dos conservadores na Grécia, no domingo, tranquilizou os mercados. O partido Nova Democracia ainda tenta formar um governo de coalizão com Pasok e Esquerda Democrática. O líder do Pasok, Evangelos Venizelos, disse que o novo governo pode ser anunciado hoje.

Os gregos, porém, já mostram alguma tranquilidade. Os bancos do país, que vinham enfrentando saques diários de até 800 milhões, já registram depósitos. E Bruxelas pode liberar a parcela de 1 bilhão do acordo de resgate, que deveria ter sido paga em maio, afirmou o jornal grego "Kathimerini".

Fontes disseram ainda que a UE pode rediscutir os termos do segundo plano de socorro à Grécia, porque o primeiro teria ficado obsoleto. Obama já se manifestou a favor de revisar os prazos para cumprimento das metas. Mas Merkel continua contra.