Título: CNJ vai investigar ameaças a juiz
Autor: Pinto, Anselmo Carvalho
Fonte: O Globo, 20/06/2012, O País, p. 9

Para Ayres Britto, fato é grave; substituto no caso Cachoeira se declara impedido

BRASÍLIA. A Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) vai investigar denúncia de que o juiz federal Paulo Augusto Moreira Lima, que cuida do caso Cachoeira, teria sido ameaçado. Ontem, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Ayres Britto, também presidente do CNJ, disse que considera de "gravidade incomum" as ameaças ao juiz .

O juiz, que conduzia o processo da Operação Monte Carlo, anunciou que pediu afastamento do caso por estar em "situação de extrema exposição junto à criminalidade do Estado de Goiás", segundo ofício escrito por ele mesmo ao Tribunal Regional Federal (TRF) da 1 Região, em Brasília.

- É de gravidade qualificada (a situação). Não se pode ameaçar, do ponto de vista da integridade física, moral ou psicológica nenhum julgador e sua família - disse Ayres Britto.

A corregedoria da Justiça Federal de Goiás está à frente das apurações do caso. Mas a corregedora do CNJ, Eliana Calmon, disse que também vai tratar do caso.

- Eu pretendo chamá-lo aqui para ter uma conversa, para saber que tipo de ameaças (sofreu), quais as providências que a Justiça vai tomar. Porque a corregedoria, da mesma forma que pune disciplinarmente o juiz, também apoia o juiz - afirmou.

A ministra disse que ficou surpresa com o documento enviado pelo juiz ao TRF.

- A minha surpresa foi quando eu vi pelos jornais que o juiz havia pedido para sair. Eu tentei me comunicar com o juiz para saber se ele precisava de apoio. Aí ele me revelou que, diante do que estava acontecendo, o trabalho dele foi desqualificado, que ele estava recebendo ameaças e que então resolveu fazer uma carta ao corregedor e pedir para sair - contou Eliana.

A Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, resultou em fevereiro na prisão do bicheiro Carlinhos Cachoeira, apontado como chefe da organização que explorava o jogo ilegal em Goiás. Moreira Lima autorizou as prisões de Cachoeira e de pessoas ligadas ao bicheiro.

Gravação flagrou ligação em telefone de juiz

O TRF anunciou que o juiz titular da 11 Vara Federal de Goiás, Leão Aparecido Alves, passaria a comandar o processo da Operação Monte Carlo. Mas ontem mesmo ele se declarou impedido de atuar no caso. Reportagem do jornal "Folha de S. Paulo" revelou que o juiz é amigo da família de José Olímpio de Queiroga Neto, um dos presos na operação.

- Não sei se (ele) tem ou não condições (de assumir o caso). O que posso dizer é que, no correr das investigações, houve um certo temor do juiz da causa em razão de uma interceptação telefônica que era de um telefone do juiz Leão - disse Eliana Calmon.

A ministra afirmou também que irá conversar com Leão Alves sobre o assunto:

- Ouvi dizer, por isso mesmo vou ouvir o juiz Leão para saber dele o que aconteceu. Isso me preocupa. Contaram que efetivamente houve uma interceptação de um telefonema de aparelho dele para alguém ligado à chamada quadrilha do Cachoeira. Ele disse apenas que o telefone estava emprestado à esposa dele. Se há algum envolvimento, se a interceptação indica que uma pessoa tão íntima quanto a esposa está na investigação, é óbvio que isso impede a continuação dele à frente (do caso).