Título: Ato cobra punição de acusado de tortura
Autor: Góes, Bruno
Fonte: O Globo, 20/06/2012, O País, p. 12

Alvo foi militar identificado como algoz de militante comunista durante a ditadura

Em mais uma manifestação para constranger ex-agentes da ditadura militar identificados como torturadores de militantes das organizações de de esquerda, um ato organizado pela Articulação Nacional pela Memória, Verdade e Justiça foi realizado ontem em frente a um prédio em Botafogo, na Zona Sul do Rio. O alvo do protesto, conhecido como "escracho", era Dulene Aleixo Garcez dos Reis, que era capitão da Infantaria do Exército em 1970 e hoje é morador do prédio.

O ato reuniu 2,5 mil pessoas, segundo a PM. De acordo com os manifestantes, Dulene - que não foi encontrado no prédio no momento da manifestação - participou da tortura ao jornalista e secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) Mario Alves. Ele foi morto no 1 Batalhão de Polícia do Exército, na Tijuca. Segundo relatos de presos políticos, foi torturado empalado com um cassetete. Seu corpo nunca foi encontrado.

A concentração começou na Avenida Pasteur (Urca), em frente à UniRio, por volta das 8h. De lá, os manifestantes seguiram até a Rua Lauro Müller, em Botafogo, onde mora Dulene.

A maior parte dos manifestantes integra a Via Campesina, organização camponesa internacional. Pelo menos mil pessoas do movimento participaram. Elas estão acampadas no Sambódromo para a Cúpula do Povos, da Rio+20.

- O movimento começou no Rio Grande do Sul, por meio da Via Campesina, em 2006. Mas agora já há outras células pelo Brasil. No começo deste ano, quando já havia um processo de identificação (de militares) e expansão do movimento, a gente conseguiu fazer uma reunião com 17 estados - disse Carolina Dias, estudante de Ciências Sociais da UFRJ e porta-voz do "Levante Popular", grupo que organiza protestos e participa da Articulação Nacional.

Além de constranger militares, o objetivo dos manifestantes é pressionar a Comissão da Verdade para que haja punição aos torturadores do regime militar. Os manifestantes gritaram palavras de ordem como "torturador" e "assassino", e cantaram ao som de instrumentos de lata.

- Seu vizinho é um torturador, seu vizinho é um torturador -- gritavam para quem observava o protesto da janela.

Para Carolina Dias, o ato é inspirado em movimentos da América Latina. Participaram também militantes do PSOL, do PCB, da Marcha Mundial das Mulheres e de partidos de esquerda.