Título: Trabalho, o fiel da balança
Autor: Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 12/09/2009, Política, p. 7

Desemprego é o fator preponderante na avaliação dos brasileiros sobre Lula

O carisma de Lula tem apelo entre a população: este ano, sua aprovação entre os brasileiros chegou a 94%

Situação da economia, escândalos políticos ou um carisma irresistível? Para avaliar quais fatores afetam diretamente a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ¿ que este ano chegou a ter 94% de aprovação da população, considerando nessa menção a soma das avaliações ¿positivo¿ e ¿regular¿ medidas pelas pesquisas CNT-Census e Datafolha ¿, dois professores da Universidade de São Paulo (USP) elaboraram um estudo sobre o tema. Dados preliminares do trabalho mostram que, entre as 13 variáveis(1) analisadas, a taxa de desemprego tem o maior impacto na avaliação que o cidadão faz do presidente. Quanto a Lula ser o ¿cara¿, conforme o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, declarou, o levantamento aponta que, de fato, a figura do ex-metalúrgico tem apelo. Mas não com tanta força como imaginam por aí.

¿Em um cenário de condições econômicas exatamente iguais, Lula teria uma aprovação de 5% a 9% maior em relação a Fernando Henrique Cardoso. A isso chamamos de fator Lula. Ou seja, é o quanto o presidente influencia por si só, pela simpatia das pessoas em relação a ele¿, explica o professor de Economia e Administração da USP Alex Ferreira, autor do trabalho junto com Sérgio Sakurai. Ao interpretar o fator Lula, Alex explica que o índice de 5% a 9% é importante, mas não forte o bastante para garantir a popularidade de Lula. Já a taxa de desemprego, segundo ele, tem reflexo proporcional na forma como a população avalia o governo. ¿Em média, podemos dizer que se a taxa aumenta 1 ponto percentual, a aprovação cai entre 0,5% e 1,5%. Se ela subir, digamos, 5%, a popularidade vai cair entre 5% e 7,5%¿, destaca.

Análise Alex ressalta que as variáveis são analisadas isoladamente, pelo método de regressão linear múltipla. Isso significa que, quando o pesquisador avalia o impacto da inflação na popularidade de Lula, por exemplo, ele mantém, por um modelo matemático, todas as demais variáveis constantes, neutras. ¿Só assim conseguimos entender qual a relevância de tal fator na aprovação do presidente¿, diz. O estudo foi montado com os índices de avaliação de Lula divulgados pelas pesquisas CNT-Sensus e Datafolha e com informações oficiais sobre estatísticas econômicas. O período que o trabalho abrange vai de setembro de 1999 a fevereiro de 2009 ¿ ou seja, o segundo mandato de FHC e o primeiro e parte do segundo de Lula.

A crítica que Alex faz em relação ao próprio trabalho foi não ter conseguido avaliar, de forma precisa, o impacto das ações sociais na popularidade do presidente Lula. ¿A falta de dados mensais sobre programas como o Bolsa Família, por exemplo, atrapalhou a nossa análise, de forma que decidimos não nos concentrar nessa parte¿, destaca o professor. As crises políticas, embora muito impactantes, desaparecem ao longo do tempo. Para medir tal fenômeno, os pesquisadores utilizaram as capas da revista Veja como termômetro. ¿Se houve uma capa no mês falando mal do presidente ou do governo, a popularidade cai em 1%. Quatro publicações com esse teor negativo representam 4% de queda mensal na simpatia¿, afirma.

1- Pesquisa Os fatores analisados na pesquisa foram inflação interna, inflação externa, déficit público, importação sobre reservas internacionais, risco-país, déficit em conta corrente externa, taxa de câmbio, desemprego local, desemprego nos Estados Unidos, tendências (que podem captar, por exemplo, o crescimento do Bolsa Família) e cenário político nacional (dividido em duas categorias: bom e mau).