Título: Especialistas totalizam as perdas e os ganhos
Autor: Motta, Cláudio; Jansen, Roberta
Fonte: O Globo, 24/06/2012, Economia, p. 43

No balanço da conferência, destaque para os eventos paralelos e da sociedade civil

A Rio+20 pode ser considerada a maior conferência realizada pela ONU, sobretudo quando se leva em consideração os eventos paralelos, dizem especialistas. Mas o seu resultado oficial, expresso num documento considerado pouco ambicioso, a apequenou, na análise de ONGs e da sociedade civil. O texto reflete a unanimidade possível de ser obtida entre os 193 países-membros. Mesmo assim, ainda há motivos para o resultado não ser considerado um fracasso total, como avaliam representantes da prefeitura e do governo federal.

- Em relação à parte oficial, houve aspectos positivos, sobretudo a eliminação de vetos que estavam há algum tempo pendentes - disse o sociólogo, escritor e comentarista da CBN Sérgio Abranches. - O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) teve a indicação de que será fortalecido, assim como deverão ser criados os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável realizando uma ampliação das Metas do Milênio. Ficaram faltando determinar as metas e os compromissos, que não foram determinados porque a regra da unanimidade impede a decisão por maioria.

Toda unanimidade

é diplomática

A conferência, para o economista Sérgio Besserman, presidente da Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável da prefeitura do Rio, não foi uma, mas muitas. A riqueza do evento, de acordo com ele, esteve na mobilização da sociedade, seja na Cúpula dos Povos, nas reuniões de empresários, em fóruns de cientistas, de ONGs, e das redes de cidades (uma referência à C-40, uma reunião com 59 prefeituras que estipularam metas voluntárias para evitar a emissão de 1 bilhão de toneladas de gases-estufa até 2030).

- A conferência da ONU produziu um documento frouxo, que não está à altura da urgência que a crise ecológica tem hoje. Nossos embaixadores e a ministra Izabella Teixeira fizeram um grande trabalho, mas não havia atores querendo avançar - avalia Besserman. - Na minha opinião, o Brasil poderia ter adotado uma posição mais audaciosa, mesmo que isso resultasse na ausência de acordo. Não seria um fracasso maior do que um documento sem força.

Os representantes de ONGs, por outro lado, foram mais críticos. Matthew Gianni, conselheiro político da Deep Sea Conservation Coalition (que reúne 71 instituições), lembra que ambientalistas pediram a retirada do texto oficial o trecho no qual há menção à participação da sociedade civil.

- Como muitas ONGs têm falado, o resultado foi débil, sobretudo em relação aos direitos da mulher, fim dos subsídios a combustíveis fósseis e a falta de uma posição que leve à proteção da biodiversidade em alto-mar - reclamou Gianni. - O aquecimento global é um perigo sem precedentes, tanto para nós, que moramos na terra, como para a biodiversidade do mar. E, nesse sentido, não podíamos ter esperado tanto dos governos, levando em consideração eventos anteriores da ONU. Mas, diante da urgência ambiental, os governos ainda precisam fazer muito mais para nos dar a chance de evitar uma catástrofe global nas próximas décadas.

Centro Rio+ é apontado como conquista

Em relação a conteúdo, o governo brasileiro reconhece que o documento final da Rio+20 poderia ter ido além. As limitações, de acordo com a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, foram impostas pela necessidade de obter unanimidade para aprovar uma resolução. No discurso oficial, porém, o resultado da conferência é considerado muito positivo.

Entre os legados citados pela ministra do Meio Ambiente, que levou em consideração também os benefícios criados em eventos paralelos, destaca-se o para a criação do Centro Mundial de Desenvolvimento Sustentável (Centro Rio+), com sede no Rio, que servirá para reunir órgãos nacionais e internacionais na discussão sobre o meio ambiente.

- O que é adotado (na Rio+20) é consenso. Não necessariamente nossas vontades prevaleceram 100%. O Brasil era mais ambicioso em relação ao alto-mar, por exemplo, mas tivemos que conciliar - explicou Izabella. - Acho que o texto sinaliza um caminho para coordenar as várias ações, e dar a importância aos oceanos que talvez em 1992 demos às florestas.

Segundo a ONU, durante a Rio+20, foram criados 692 compromissos voluntários entre governos, ONGs, empresas, universidades e outros, nos eventos oficiais e paralelos realizados antes e durante a conferência.