Título: Protocolo que funciona salva camada de ozônio
Autor: Motta, Cláudio; Jansen, Roberta
Fonte: O Globo, 24/06/2012, Economia, p. 43

Acordo de Montreal entrou em vigor em 1989 e conseguiu reduzir em mais de 90% a produção dos chamados CFCs

Apesar de todas as críticas sobre o modelo de negociação das Organizações das Nações Unidas (ONU), que acaba gerando tratados fracos justamente porque precisa da aprovação de todos os membros, há uma exceção extremamente honrosa na história dos acordos ambientais. O Protocolo de Montreal - para o banimento dos gases CFCs, responsáveis pela destruição da camada de ozônio - conseguiu a adesão de 197 países e, desde que entrou em vigor, em 1989, levou à redução de mais de 90% do uso dos gases em todo o planeta. Estudos recentes mostram que a concentração na atmosfera já caiu e a previsão é que o buraco comece a se fechar a partir de 2050.

O impacto dos gases CFCs - que eram então de uso extremamente difundido em sistemas de refrigeração e na fabricação de plástico e aerossol - na atmosfera já era estudado desde o início da década de 1970. Mas foi só em 1985, quando pesquisadores da British Antarctic Survey constataram uma concentração anormalmente baixa de ozônio sobre o Polo Sul, que o problema foi diagnosticado.

Um buraco sobre o continente antártico

A imagem de satélite obtida, revelando um verdadeiro buraco sobre a Antártica, teve um impacto gigantesco, estampando capas de revista em todo o globo, num momento em que a preocupação ambiental era crescente. Dali para um acordo mundial foi rápido. Em 1987, o protocolo foi assinado. Dois anos depois, ele já estava em vigor.

A ampla adoção e implementação do protocolo levou o próprio Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU, a dizer que se tratava "do mais bem-sucedido acordo internacional". Para especialistas, há duas razões principais para isso: provas cabais de que os gases estavam degradando a camada de ozônio e uma solução relativamente simples para o problema.

- Os dados científicos eram muito robustos, a evidência era grande, o problema já estava acontecendo visivelmente - explica o pesquisador Plínio Carlos Alvalar, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). - Além disso, não eram muitas as indústrias que fabricavam os CFCs, uma dezena de multinacionais. Sabia-se o quanto era produzido, o quanto era consumido em cada país. Era relativamente fácil rastrear produção e consumo. Bem diferente do combustível fóssil (um dos principais responsáveis pelas mudanças climáticas atuais).

O economista Sérgio Besserman, presidente da Câmara de Sustentabilidade do Rio, concorda com o colega:

- O Protocolo de Montreal abordava um problema grave, mas sua solução era exclusivamente tecnológica e a um custo positivo, que ainda aumentava a produtividade - afirma. - Na Rio+20, ficou claro que precisaremos de muita ciência e tecnologia. Mas não basta solução tecnológica. Será preciso internalizar os preços das agressões ambientais.

A camada de ozônio surgiu há dois bilhões de anos, formando um escudo protetor da nociva radiação ultravioleta do Sol e, com isso, permitindo a diversidade da vida na Terra. Os raios UV afetam o DNA, prejudicam plantas e aumentam o risco de câncer de pele. A camada se manteve intacta até meados do século XX, quando o acúmulo de gases CFCs, liberados pelo homem, começou a destruí-la.

Os gases são levados por ventos da alta atmosfera para as regiões polares, onde se concentram. Como a circulação atmosférica é mais isolada no Sul, o acúmulo é cem vezes maior do que em qualquer outra parte, criando o buraco na camada de ozônio, sobretudo entre agosto e novembro por conta de particularidades atmosféricas.

Embora os CFCs tenham sido praticamente banidos - a produção de substâncias que atacam a camada de ozônio caiu 93% desde o fim dos anos 1980, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) -, seus efeitos permanecem. Enquanto o cloro dura até cem anos, o ozônio permanece por poucos dias e leva muito tempo para se recompor.

- O CFC 11 tem vida média de 120 anos, enquanto a do CFC 12 é de 60 - explica Alvalar. - A concentração desses gases na Troposfera (a parte mais baixa da atmosfera, onde vivemos) alcançou seu pico em 1992 e vem caindo. Mas na estratosfera, de onde vai para o Polo Sul, ainda é muito alta.