Título: Cúpula da UE terá queda de braço decisiva
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 24/06/2012, Economia, p. 40

Encontro testará Hollande e Monti, além de ser crucial para Espanha e Grécia. Alemanha brigará por austeridade

GENEBRA. Na próxima quinta-feira, a cabeça do premier italiano, Mario Monti, estará a prêmio, a reputação do novo presidente francês, François Hollande, em teste, e o futuro da Espanha, em jogo, quando líderes europeus se reunirem em Bruxelas para tentar, mais uma vez, salvar o euro. Com a crise chegando perto de economias maiores, o encontro se anuncia delicado. Ele vai indicar quem vencerá a queda de braço: franceses, espanhóis, gregos e italianos, que defendem uma Europa mais flexível e pronta a tudo para salvá-los, ou alemães, que querem disciplina e que cada um arrume sua casa, antes de tudo?

As apostas indicam que quem vencerá é a Alemanha - ou seja, o país que não quer mudar a principal (e mais contestada) receita contra a crise: austeridade. Para Simon Tilford, economista-chefe do Centro para Reforma Europeia, em Londres, por causa disso, o euro pode afundar ainda mais depois do encontro:

- Vamos ver algum movimento por parte dos alemães. Mas não acho que vamos ver um mudança fundamental na estratégia. Como resultado, a situação (de crise) provavelmente vai intensificar.

Já o italiano Francesco Saraceno, economista do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas, duvida que Monti sobreviva no comando da Itália. O primeiro-ministro italiano, diz, perdeu o apoio da maioria:

- Infelizmente, dada a situação, acho que Monti pode cair.

Saraceno também teme que os resultados da cúpula, nos dias 28 e 29, acabem agravando a situação do euro. E lembra que a paciência dos mercados está diminuindo. Em 2010, quando o primeiro pacote de ajuda à Grécia foi aprovado, o mercado se manteve calmo por duas semanas. Mas na semana, passada, depois das eleições gregas, a calma só durou uma hora e meia.

Juan Ignacio Sanz, especialista em bancos da Esade Business School, em Barcelona, deposita as fichas do país nessa reunião:

- Essa vai ser provavelmente uma das últimas oportunidades para evitar que a Espanha acabe tendo de pedir ajuda para o país (e não apenas aos bancos).

Para evitar isso, diz, a cúpula de Bruxelas teria que decidir criar uma união bancária e transformar o Banco Central Europeu (BCE) numa espécie de Federal Reserve (Fed, o banco central americano), isto é, uma instituição que tem amplos poderes para agir no mercado, além de efetuar o combate à inflação.

- Provavelmente esta é a única resposta à situação: um BCE com capacidade para agir, comprando dívida pública e injetando dinheiro nos mercados europeus - diz Sanz.

O economista alemão Guntram Wolff, vice-diretor do instituto Bruegel, em Bruxelas, acha que, depois de três anos de crise, é preciso agora que haja um movimento do bloco rumo a maior governança e integração.

- Precisamos de acordo para uma união política - afirma.

Países não estão unidos contra Alemanha, diz analista

A chanceler Angela Merkel, segundo ele, não vai ceder no seu ponto principal: o de que o financiamento de países em crise tem de vir acompanhado de controle. O problema, para Saraceno, é que o campo que se opõe à austeridade alemã não está unido.

- Nos detalhes, os países não têm uma fórmula única para o crescimento. Monti defende crescimento através de reformas na oferta. Já Hollande quer aumento de gastos.

O problema, como sublinhou o jornal inglês "Financial Times", é que as soluções recaem sobre o contribuinte alemão. Monti, por exemplo, propôs que o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef) compre a dívida italiana no mercado secundário, para baixar os custos de financiamento do país. Mas o uso do Feef exige garantia dos alemães, que têm nota máxima no mercado e não querem correr riscos.