Título: Malhães se aliou ao PCdoB na Baixada
Autor: Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 24/06/2012, O País, p. 3

Fama de justiceiro deu ao oficial uma suplência na Câmara de Nova Iguaçu

Paulo Malhães, o oficial do Exército que atuou na Casa da Morte e na repressão à Guerrilha do Araguaia, foi candidato a vereador nas eleições de 2000, em Nova Iguaçu, pela coligação "Frente Democrática". Além do PDT, partido ao qual era filiado, faziam parte da aliança o PV e o PCdoB, o mesmo partido que deflagrou a guerrilha e foi duramente combatido por Malhães. O oficial recebeu 1.432 votos (0,41% do total) e ficou na suplência graças à fama de justiceiro que o popularizou em sua comunidade.

Malhães fala hoje da ameaça comunista como se o Brasil estivesse à beira de uma revolução marxista-leninista. Desdenha dos antigos inimigos, chamado-os de covardes. Mas não consegue esconder uma discreta admiração pelo partido que combateu no passado:

- O PCdoB sempre foi o pior grupo a ser combatido. A origem disso foi a Intentona Comunista, que envolveu vários oficiais, cooptados pelo PCdoB. E era o único grupo que tinha estrutura militar, que tinha capacidade. Para fazer guerrilha, precisa de teoria, prática e estrutura. Os outros eram guerrilheiros fantasmas. Se diziam guerrilheiros, mas eram medrosos, covardes. Os argentinos, sim, eram guerrilheiros. No Brasil, houve pouca morte em combate, mesmo na guerrilha. E a maior no Brasil, a do Araguaia, foi um fracasso.

O oficial, que vive há pelo menos 27 anos com a mulher na Baixada, disse que hoje quer apenas tranquilidade. Teme que ela acabe depois que a reportagem for publicada. Mesmo assim, concordou em falar:

- Sabia que esse dia ia chegar.

Autor de "Um tempo para não esquecer", livro relançado este ano com uma lista de agentes do regime envolvidos em tortura, o professor Rubim Aquino acusou Malhães de atuar em pontos-chaves da repressão, "sempre à base da carnificina".

- Ele não fica a dever ao Brilhante Ustra. Era um violento anticomunista, que aparece relacionado à repressão no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul e no Paraná.

O Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro incluiu o nome do oficial na lista dos "Elementos Envolvidos Diretamente com Torturas". Pelo menos três ex-presos políticos, Sérgio Ubiratan Manes, Paulo Roberto Manes e Paulo Roberto Telles Franck, disseram ter sofrido espancamentos, sessões de choque elétrico e outras violências praticadas pelo militar - os dois primeiros no DOI do Rio e o terceiro no Rio Grande do Sul.