Título: Mercado reduz projeção do PIB para 2,18%. Para 2013, novo recuo
Autor: Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 26/06/2012, Economia, p. 22

Estagnação da indústria provocou revisão. Espera-se alta de só 0,5% para o setor

TURBULÊNCIA GLOBAL

BRASÍLIA. Os analistas do mercado financeiro aumentaram a dose de pessimismo em relação ao desempenho da economia brasileira. A projeção de crescimento para 2012 despencou pela sétima semana consecutiva e já beira os 2%. A estimativa passou de 2,3% para 2,18%, de acordo com a pesquisa semanal que o Banco Central (BC) faz com as principais instituições financeiras do país. Em março, o mercado previa alta de 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país). A revisão também atingiu 2013. O crescimento previsto passou de 4,3% para 4,25%.

Segundo o levantamento do BC, o quadro traçado pelos especialistas para este ano piorou por causa das projeções para a indústria brasileira. A expectativa para o crescimento do setor no ano caiu de 0,63% para 0,5%. Há apenas um mês, o mercado contava com uma expansão de 1,58% neste ano.

- É um exagero falar que só vai crescer 0,5%. O pessoal está pessimista demais - disse Júlio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e economista-chefe do Instituto de Estudo para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi).

De acordo com Almeida, o setor carrega um desempenho pífio do ano passado e isso tem impacto nas projeções. Ele discorda dos analistas que acreditam que as medidas tomadas pelo governo para incentivar os setores em dificuldades só terão resultado no ano que vem. E aposta que as mudanças ainda serão sentidas neste ano. Além disso, a indústria também será beneficiada pelas seguidas reduções da taxa básica de juros (Selic) e pelo câmbio. Com o dólar mais caro, as exportações ficam mais vantajosas. Por isso, a previsão do economista é que o setor crescerá 2% em 2012:

- Mas se os economistas ouvidos pelo BC estiverem certos, o lado bom é que abre um caminho ainda maior para o Banco Central continuar a diminuir os juros em doses grandes ou por mais tempo.

Expectativa de inflação menor este ano

Outro dado que pode ampliar esse espaço para uma redução maior dos juros é a previsão de inflação dos analistas. Eles diminuíram a estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - usado pelo governo no sistema de metas - de 5% para 4,95%. Foi a sexta semana seguida de queda. O centro da meta em 2012 é de 4,5%.

Os entrevistados mantiveram a aposta para a Selic em 7,5% ao ano em 2012. Todo o mercado está em compasso de espera até quinta-feira, quando o BC divulgará o seu relatório de inflação. O texto trará as previsões da autarquia sobre o crescimento neste ano e inflação. A partir delas, os analistas deverão refazer os cenários.

"A avaliação qualitativa e as previsões provavelmente salientarão menor risco de inflação, refletindo pressões deflacionárias globais e uma recuperação mais lenta em casa. No entanto, as comunicações recentes sugerem que o banco vai continuar a sinalizar "parcimônia" nos cortes da taxa, dado às suas expectativas de uma melhor atividade no segundo semestre", afirmou o economista do Itaú Maurício Oreng em comunicado aos clientes.