Título: Polícia Federal prende ex-presidente da Valec
Autor: de Carvalho, Jailton
Fonte: O Globo, 06/07/2012, O País, p. 13

A Polícia Federal prendeu ontem o ex-presidente da Valec Engenharia José Francisco das Neves, o Juquinha, e mais três pessoas acusadas de se beneficiarem de fraudes em licitações da ferrovia Norte-Sul.

Nos quatro primeiros inquéritos sobre o caso, a polícia já constatou superfaturamento de R$ 129 milhões só na construção de trechos da ferrovia em Goiás. Juquinha, que foi presidente da Valec entre 2003 e 2011, deixou o cargo ano passado em meio a denúncias de corrupção no Ministério dos Transportes.

O líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), anunciou que pedirá a convocação de Juquinha para depor na CPI do Cachoeira.

Durante a gestão de Juquinha, a Valec fez contratos de R$ 574 milhões com a Delta, alvo da comissão.

Mulher, filho e sócio também foram presos O ex-presidente da Valec tem ligações políticas com os deputados Valdemar Costa Neto (PLSP), Sandro Mabel ((PMDB-GO) e com o senador Vicentinho Alves (PR-TO). Na Operação Trem Pagador, a Polícia Federal em Goiás prendeu Marivone Ferreira das Neves e Jader Ferreira das Neves, mulher e filho de Juquinha.

Também foi preso Marcelo Araújo Cascão, sócio do executivo. O grupo é acusado de comprar mansões e fazendas, entre outros bens, para esconder o dinheiro supostamente desviado de obras da Norte-Sul.

As prisões foram decretadas pelo juiz da 11ª Vara Federal de Goiânia Alderico Rocha dos Santos, encarregado também do processo contra a organização do bicheiro Carlinhos Cachoeira.

No mesmo despacho, o juiz determinou o sequestro dos bens do grupo de Juquinha. Nesta relação constam 15 imóveis, entre eles três fazendas em Goiás e três mansões no condomínio Alphaville, em Goiânia. Também foram bloqueadas 105 contas de empresas do grupo.

Juquinha, a mulher e o filho têm patrimônio declarado de aproximadamente R$ 18 milhões.

Mas, pelos cálculos dos investigadores, só os bens identificados até o momento chegam a R$ 60 milhões. Quando chegou à Valec, em 2003, Juquinha declarou patrimônio de R$ 1,5 milhão.

Nos 11 anos em que esteve na estatal, o executivo fez essa fortuna se multiplicar 830%, conforme cálculo de peritos que estão participando das investigações.

A investigação começou ano passado a partir de um levantamento que o procurador da República Hélio Telho estava fazendo sobre o patrimônio do ex-presidente da Valec. A ideia do procurador era identificar bens que pudessem ser apreendidos e leiloados numa ação civil já em curso contra Juquinha. Na apuração preliminar, Telho se deparou com uma surpreendente fortuna do ex-funcionário da estatal e acionou a Polícia Federal.

— Aquilo me assustou. Sabia que era muito, não sabia que era aquele patrimônio todo. E boa parte desse patrimônio estava em nome da mulher dele — disse Telho.

A partir dali, a Polícia Federal decidiu abrir uma investigação específica para identificar a movimentação do dinheiro e a compra de imóveis pelo grupo de Juquinha.

Segundo o superintendente da PF em Goiás, Joaquim Mesquita, trata-se de um inquérito específico sobre a suposta ocultação de riqueza de origem ilícita. As fraudes da Norte-Sul estão sendo apuradas de forma complementar em outras investigações.

A ideia dos investigadores é seguir o caminho do dinheiro supostamente desviado e levar o grupo à asfixia financeira.

— Esta é uma investigação diferente. Está focada no patrimônio e não nas fraudes nas obras. As fraudes estão sendo apuradas em outros inquéritos — explicou Mesquita.

A Polícia Federal também esteve na sede da Valec, em Brasília, verificando documentos relativos à época da gestão de Juquinha.

Funcionários da estatal que permaneceram na empresa foram interrogados. A Valec não se manifestou até agora sobre o caso.

Juquinha foi preso numa das três mansões que possui no condomínio Alphaville, em Goiânia, o mesmo onde Cachoeira foi detido em 29 de fevereiro.

Em depoimento à polícia, Juquinha disse que acumulou fortuna a partir da renda de bens e pequenos negócios que fez ao longo da vida. Mas a situação do ex-presidente da Valec se tornou mais complicada depois do interrogatório do motorista Mauro de Souza. O motorista, que prestava serviços à família de Juquinha, confirmou que recebia salário da Construmat, empresa com contrato de mais de R$ 4 milhões com a Valec.