Título: Poupança tem nova captação recorde: R$ 5,1 bi
Autor: Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 06/07/2012, Economia, p. 31

BRASÍLIA. A captação líquida da caderneta de poupança - diferença entre depósitos e retiradas - chegou a R$ 5,1 bilhões em junho: o melhor resultado para o mês desde junho de 2002. Depois que o governo anunciou mudanças na rentabilidade da aplicação, no início de maio, essa diferença só aumentou. Só nos dois últimos meses, foi de R$ 11,4 bilhões.

Esse volume representa 77% do resultado do primeiro semestre inteiro, de acordo com os dados divulgados pelo Banco Central (BC).

Os especialistas confirmam que há uma migração de investimentos de fundos para a poupança, mesmo após a mudança na fórmula de rendimentos. O alerta de que isso poderia ocorrer é feito desde quando o BC começou a baixar as taxas básicas de juros no ano passado, porque os fundos ficaram cada vez menos atraentes em comparação com os rendimentos da caderneta, que não tem taxa de administração e é isenta do Imposto de Renda.

- Eu não acredito que haverá problemas na indústria de fundos no Brasil, mas será inevitável um movimento de queda das taxas de administração dos fundos cobradas pelos bancos - avaliou o vice-presidente da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Oliveira.

Regras foram mudadas para permitir corte de juros

Foi para evitar essa corrida de aplicadores para a poupança e o enfraquecimento dos fundos de investimentos, repletos de papéis da dívida pública brasileira, que o governo decidiu alterar a rentabilidade da caderneta em um ano eleitoral, mesmo com o risco de a medida ser mal recebida, deixando o caminho livre para o Banco Central continuar sua política de corte de juros. A remuneração da poupança ameaça a redução dos juros, peça central na estratégia do governo para estimular o crescimento da economia num momento de crise global.

Desde 4 de maio, pela regra atual, os novos depósitos não são mais corrigidos pela fórmula de 6% ao ano além da taxa referencial (TR) toda vez que a taxa básica (Selic) cair para 8,5% ao ano. A partir desse patamar, a aplicação rende 70% da Selic mais TR. O gatilho da mudança foi acionado ainda em maio, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) diminuiu os juros básicos de 9% para 8,5% ao ano. Na semana que vem, quando o Copom tem uma reunião marcada, os analistas do mercado financeiro esperam uma nova queda dos juros básicos.

Segundo o BC, só no mês passado os correntistas depositaram R$ 98,8 bilhões na caderneta de poupança e sacaram R$ 93,7 bilhões. Ao todo, os brasileiros guardam R$ 449 bilhões na tradicional aplicação, que é considerada a mais segura.